"A Colonia Penal" - novela, do Kafka, para dia 09/09/2017, comentário - forma e conteúdo, em uma página - 20 linhas: conto surreal, em verosimilhança ao superrealismo, de opressão; (disponível em pdf - http://www.verlaine.pro.br/txt/kafka-colonia.pdf );
CONTEÚDO: sacralidade do corpo submetida à mitologizada técnica, que na subordinação à chefia imediata - que perdura apesar de ausente, essa substitue a moral vigente anteriormente - que precedeu a civilização até o advento do Holocausto nazista, agora submetida à obediência à ordem dada, sem mais a presença da culpa oriunda do nascedouro da concepção da ideia, seguida da construção técnica da máquina de execução de pena com tortura.
FORMA: Conto - breve relato com poucos personagens, com início interessante, mantido pelo diálogo insólito em meio à pressa em saber o desfecho, com final impactante.
Gênero Literário - Drama, com enredo - estrutura narrativa - quando expõe o conflito: do homem frente à moral técnica vigente, em manifestação da miséria humana;
. narrador na terceira pessoa;
. tempo: na terceira pessoa;
. Pontos essenciais - elementos:
. ambientação: ilha de colônia penal francesa;
. perfil psicológico do personagem: denso, destituído mazelas - o explorador, mas com neurose - o oficial, de singela obediência - cada um dos envolvidos, no decorrer da trama,
. voyerismo: até do apenado, além do explorador, antes de saber que era alvo da execução;
. papéis trocados: presente no conto de Kafka, característica também do Pirandello, quando o executor passa a executado;
. insatisfação: do explorador, essa que submete o executor como se fora a nova ordem vigente - do novo comandante, aferida pelo dizer do explorador;
. alteridade: transmitida pelo explorador - de ambígua postura, em alterego do escritor que resvala para o executor ao se auto punir - extensiva pena à moral, técnica vigente - contemporânea na leitura hoje;
. inadequação: da moral que apenava quem concebia a ideia, pois passa ao executor que não obedece a seu superior;
. protagonismo - tipo de personagem, figuras arquetípicas: o executor que só cria "autonomia" - põe a mão na massa, à partir de um fato: percepção tardia da troca de guarda - comandante da colônia, na presença de um antagonista - o explorador, fato só então agudizadamente traumático pra ele; e na abordagem mítica: de justiça, aqui militar, de quem se crê contenha infalibilidade;
. polaridade: entre a moral judaico-ocidental-cristã - erro iniciado no pensar a ação de construir a máquina de execução, em conflito com a vigente técnica – passível de pena se o subalterno se insurgir com sua chefia imediata;
. catarse: na morte do executor operacional de tal máquina, que se junta assim ao idealizador - este que em solo sagrado nem foi recebido em morte;
. sabedoria do corpo (mito e sacralidade): mito da tecnologia infalível, ao romper a barreira da pele e invadir a sacralidade do não saber do corpo ingênuo, este que dormiu em desobedecida vigília, devida a seu oficial superior;
. segurança no caminho: universal cenário masculino de ativa postura ergonômica invertida - submissão do corpo à máquina.
Obs.:
. em exercício com saberes absorvidos em Oficina, no SESC: "Como se tornar um escritor hoje": caminhos da Literatura - 05/08 a 25/11/2017, ministrada pelo Flávio Viegas Amoreira.
. estrutura literária baseada em classificação dada pelo Diagrama de Gêneros Literários -
http://ricardorutiglianoroque.blogspot.com.br/2017/08/diagrama-de-generos-literarios.html .
* Sinopse na wikipédia:
"O livro faz uma análise crítica sobre o instituto da pena, analisando os seus limites, a impropriedade das penas baseadas em castigos corporais e ilustra com clareza e precisão a barbárie que constituíam as técnicas medievais na aplicação desses castigos punitivos. Narra a história de um explorador que, durante visita a uma colônia francesa, presencia o sistema empregado na execução de um soldado acusado de insubordinação. O sistema que o condenou está baseado numa doutrina jurídica arbitrária, em que o acusado não tem direito à defesa. Quem administra essa "justiça maquinal" é um instrumento de tortura que escreve lentamente sobre a pele, no corpo do condenado, com agulhas de ferro, presas à uma estrutura de vidro, a sentença do crime que, muitas vezes, ele mesmo não sabe que cometeu. Na colônia penal é também uma crítica à exaltação das máquinas e dos mecanismos usados com intuitos cruéis. O Oficial, personagem do livro, que é a favor do uso da Máquina de tortura para executar sentenças, fala desta como se tratasse de um "deus". Ele a adora como tal. Todo o livro gira em torno desta máquina. Observamos o descaso do oficial para com o Condenado - que, como já foi dito, não sabe o porquê de estar ali, nem sabe que foi acusado - e vemos o cuidado e a perícia com o aparelho de tortura usado para torturar e matar. Quando o condenado estava para receber o suplício, porém, o explorador diz ao oficial o que pensa dos seus métodos de execução - fala que o método não o convenceu, e se dispôs a oficial: "Não apresentava sinal algum da redenção prometida. O que outros teriam encontrado na máquina acabara por lhe ser negado. Os lábios se achavam apertados com firmeza, os olhos abertos, com a mesma expressão que tinham quando vivos, o olhar seguro de si, convencido. A testa se achava perfurada pela grande agulha de ferro" (KAFKA, 1969:100)." - João Correia (Ovar).