domingo, 22 de outubro de 2017

Lavai, e Lá vai.

"Lavai e Lá, vai.

Vai uma criança linda, de cor vital, olhos profundos e mente brilhante. Caminhando chegará no cume e andará por descobrir seu ventre. Seu choro atinge o universo e  ecoará pelos planetas, como as plantas mais antigas, as briófitas. Essa ramificação que se expõe em tipo sanguíneo, o futuro, como a leitura de uma história infantil de terror, creche em chamas. Cada estória, cada significado, não eram capazes de traduzir o mundo mas em sua mente brilhante, associava ao seu pai, a capacidade de Deus, de criar e descriar a maturidade, frente seus atos realizadores. Um dia, numa fábrica de chocolate em Cubatão, a criança foi levada ao lagamar. Visionária, relativizava o ponto no qual pudera chamar de partida. Litros e litros de água do mar jorravam, como aqui entregamos às letras, as letras. Mas ela segue brilhante, viva, penetrante, desconcertante, ela cresce e não deixa seu pai intervir  e diz: - Quais são as lições de Gurjief deixadas pelos avós? - Quem são meus antepassados? - Onde estão enterrados os Ferreiras Gulares ? - Que manias tinham? ou somente o tipo sanguíneo fazia concórdia poética?  resultantes?
Todas as suas lições escolares foram refeitas, seus graus colados no álbum, na sua testa e canastra, um dia foi o jogo de sua vó. Um dia descobriu o truco, o buraco, seu blefe, sua identidade. Do ponto mais alto e estratégico possível, esculpiu seu rosto na mesa, cobriu de arroz e comeu. Seu suprassumo era se alimentar de conhecimento, beber conterrâneos, inalar o ar do mar, digitalizar sua face. Passo a passo silua identidade atingir a carteira, e depois o ônus e o roubo e a preguiça e todos pecados capitais. Eram apenas crianças fugitivas da infância e que um dia nasceram isoladas numa barriga. Gemeos são como estrelas duplas nascidas no mesmo âmago.
- Naquela viagem pra Cubatão, pode - se descobrir a criatividade, na cumeeira da montanha ou do telhado de sua casa, escorregava por arco íris até chegar à varanda de seus olhos, nada ou tudo poderia fazer sentido. Mas até a sua colação de grau, dava sentido de local, como Vrindrávana e Esperanças Perdidas. Quantas voltas teve ela, a criança toda resumida, de relógio, assaltada, escrita solta.  Um conto, na verdade seu ponto, de vista, de costura, de umbanda, seu significado mais profundo, sua assinatura, como o sangue. Atravessará matagais, chamas, peças, suposições, apenas tentará enteder as palavras. E quando realmente fitar a leitura deste poema, nem Leminski, nem Bandeira, nem de Barros, estralarão a linguagem da criança, a leitura que se constrói em vossa vida. E talvez nem os versos mais frequentes se somarão aos pontos. Numa quadra de basquete ou handebol. Na escola ou na creche, na razão ou na intuição, na saúde ou na doença, casará consigo mesma. Que bola de neve! como posso ter nascido dos bagos de meu pai? enfim terás a vida toda pra questionar e principalmente usar suas mãos. Seu doce afeto regará o caos e a vida eterna. Te entregará a Deus um dia e poderás renascer borboleta ou singrar ao divino. Mas e o poema? Se é só dele que vive a alma? Tenho eu que ser engenheira?, garçonete? Judite? cantora? Quantas cervejas terei que beber até chegar a boa? Aventurança essa criança, cansada, com rugas, como Chico, de Holanda, maranhense um dia, poderá votar num líder ou num cantor ... e poderá ser qualquer coisa até mesmo uma serpente, kundalini. Bom, finalmente o mar pode chegar à terra e surfaremos juntos toda essa baboseira, almoçando, na mesa, seu rosto reflete na luz do nada e finalmente diz. - Te amo pai, te amo mãe mas estou indo embora para onde eu vim. De dentro de vocês nunca sairei e toda poesia escrita um dia, será para te entediar, rever seus pensamentos crédulos, suas atividades urbanas. Enterrando e desenterrando seu passo, quem sabe em sua próxima vida, em extinção, nos reuniremos no cume e reescreveremos todas nossas palavras e lavramos então o pensamento e unos, numa estrada de ferro, permitamos passear de passado, montados em ruas, apropriados de tudo em sua suma compostura. Criança velha, serás amada até por seus inimigos pois os pensamentos são botantes, são perfeitos e a saudade no meu peito ainda mora e é por isso que amamos quem vem lá de fora. Um dia pousará em Peruíbe e na areia branca seu leque que sombreia, protege e faz vento. Logo mais saborearemos um belo molho de tomate. Surreal Patagruélica, não importa, sua vida importa." - Liso Carenu, em poemas retroativos.

Liso Carenu / Acervo dos Escritores Santistas, desde seu "Qualquer Lógica pode ser Alvorada" - livro inédito de poemas.
("Segue em 21 de novembro de 2017").

domingo, 1 de outubro de 2017

Capivara em alteridade! (*)

Que tal dar voz a quem não tem, assim, nessa alteridade, à começar pela capivara!?
Bom proveito, dessa inspiração.
Gratidão da capivara, né!?

*
Abertura ao pequeno conto autoral.
Um conto de vinte linhas ao mês, para publicação inicial em blog do Acervo dos Escritores Santistas, de cada escritor caiçara, e quiçá em jornal diário, quando tornado consistente tal proposta, ao qualificar coletivamente sua escrita, no âmbito desse Acervo.

Ricardo Rutigliamo Roque - moderador e autor da proposta.