sábado, 18 de junho de 2016

Ler o Vizinho e Conto entre Nuvens um Passarinho Assustado - em Mongaguá.

Assunto: Ler o Vizinho e Conto entre Nuvens Um Passarinho Assustado - leituras, em estudo dirigido na sala de leitura, em paradidática dinâmica, de Conservacionismo, do bioma Mata Atlântica, geradora de Saúde Ambiental, na manhã da primeira sexta-feira de agosto de 2016 - 05/08/2016, em Mongaguá.

PARA QUE: 
. perceber a literatura, com conteúdo sem estereotipias, em alquímica leitura, na construção da identidade caiçara - cenários, costumes e personagens, para autoral opereta caiçara, com melhoria da leitura, com respiração diafragmática e voz projetada, em valorização do dizer poético;
PORQUE:
. oferecer ao leitor em formação:
.. conteúdo de Conservacionismo do bioma Mata Atlântica, ao vivenciar a Cultura Caiçara, geradora de Saúde Ambiental;
.. respeito à vocação de cada aluno, dentro da L.D.B. – Lei de Diretrizes e Bases do Ensino;
.. lembrar o que o escritor Carlos Heitor Cony disse na Folha de S. Paulo: que o cinema passou de documentarista à sétima arte quando focou romance, poesia e crítica;
.. lembrar o que disse o diretor-geral Koïchiro Matsuura, da Unesco – Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura, que condicionou a salvação da humanidade a mais conhecimento, mais contenção, menos matéria, mais concretude, mais ética e política. (SÃO PAULO, Folha; pág. A3; S.Paulo, 17/02/2008);
.. remeter à precaução - preceito que o Brasil é signatário desde a Eco-92;
.. vivenciar o respeito aos 5 P's - Pessoas, Planeta, Paz, Parcerias e Prosperidade, contidos nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável:
1) Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
2) Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição
3) Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos
4) Garantir educação inclusiva, equitativa e de qualidade
5) Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
6) Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água
7) Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável
8) Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável
9) Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva
10) Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles
11) Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes
12) Assegurar padrões de consumo e produção sustentável
13) Tormar medidas urgentes para combater a mudança do clima
14) Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos
15) Proteger, recuperar e promover o uso sustentável das florestas
16) Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável
17) Fortalecer os mecanismos de implementação e revitalizar a parceria global ;
POR QUEM:
. alunos-leitores reunidos, na presentificação de autores literários, com textos de obras referenciadas;
ONDE:
. na biblioteca ou sala de leitura da própria escola;
QUANDO:
. na primeira sexta-feira de um mês ao ano, no período da manhã (*);
QUANTO:
. duas dinâmicas leituras, de uma hora;
PARA QUEM:
. para os próprios leitores:
.. menores de 12 anos - Conto entre Nuvens Um Passarinho Assustado;
.. maiores de 12 anos - Ler o Vizinho;
QUANTO CUSTA:
. sem ônus à escola, alunos, pais, professores e funcionários.
   Para integrar a metrópole e preservar o cenário natural e costumes de comunidades tradicionais, já estão requeridos: logística, insumos, alimentação, estadia e pró labore ao CONDESB - Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista, sob protocolo nº. 003281 2/2, em 13/05/2016, na construção de personagens - Pescador e Mulher Caiçaras, baseada na literatura em abordagem, com traços de pedagogia piagetiana, daquilo que evoca cada município da Baixada Santista, construção essa mediada por autoral programa - Ler o Vizinho e Conto entre Nuvens Um Passarinho Assustado, que aconteça em escolas públicas municipais, dentre as nove cidades - em calendário especificado abaixo, e quiçá uma convidada - vizinha à região.
   Considerado que sistematizar arrefece a sanha centralizadora de qualquer liderança em uma cidade apenas, ao democratizar o rodízio de anfitrião, em convite a evento literário legitimo, iniciado em Santos (*), se longe de uma excessiva personalização do mando e distante de ordem unida idiossincrática, propõe: 
. a primeira sexta-feira de cada mês - segunda ao coincidir com feriadão, com suficiente tempo, assim, para cada coletivo de estudantes e escritores, compilar textos vizinhos e acolher, em seu acervo, um exemplar de obras oferecidas por seus autores, aos cuidados de quem o adesiva - Acervo dos Escritores Santistas, intituladas "Lua Rouxinol" - Maria José Goldschmidt, e "Os Bichos" - Manoel Herzog, em fomento à produção, por outros solos, norteada pela temática caiçara.
. viabilizar o poder do anfitrião - estudantes e professores, mas sem reprimir demanda do convidado - escritor, legítimos.
   Há inspiração em prosa e verso, por temas, propostos, em locais naturais e históricos, na distribuição em uma cidade ao mês, dentre os nove municípios, exceto janeiro, fevereiro e julho.

* Temática vocacionada, em escola de primeiro grau, assim sensibilizada, no corrente ano:
. março - Bertioga, Cultura Caiçara (1); 
. abril - Cubatão, O Negro (2); 
. maio - Guarujá, O Pescador Caiçara (3); 
. junho - Itanhaém, A Praia (4); 
. agosto - Mongaguá, A Pesca; 
. setembro - Peruíbe, Fandango; 
. outubro - Praia Grande, O Manguezal;
. novembro - em Santos, O Caiçara Aportado - portuário, do engenho de cana-de-açúcar e do café; 
. dezembro - São Vicente, O Guarani. 
   Sempre sexta-feira de manhã.
   Ricardo Rutigliano Roque - presentificador de literatura, de obras autorais - próprias e de escritores da região (5), moderador e criador do Acervo dos Escritores Santistas (6), autor do P.S.A. & C.H.E. - Programa de Saúde Ambiental & Contradita Histórica e Ecológica, requerido em Santos e São Vicente (7), autor de filme e canções (8), e livros (9), Delegado da Conferência Nacional da Saúde Ambiental 2009 (10), com resumo de pertinente currículo (11), 
, telefone celular (13)9 8155-5544. 

* "A Biblioteca Municipal Mário Faria (Posto 6 da orla) recebe programação da 3ª. Semana da Cultura Caiçara, que tem início. Entrada franca. A partir das 16h, a mulher caiçara será homenageada no 1º Concurso Literário de Crônicas do ACERVO DOS ESCRITORES SANTISTAS. O evento, realizado na Biblioteca Mário Faria, também celebra o último dia da Semana Internacional da Mulher". (Diário Oficial de Santos, página A 7, 15 de março de 2016). 
1. excepcionalmente acontecida virtualmente;
2. Escola Padre José de Anchieta Municipal de Cubatão.
Endereço: Rua Salgado Filho, 130
Jardim Anchieta, Cubatão - SP
CEP: 11500-270
Telefone (13) 3361-1058 // 3361-7739
e-mail: emefpjanchieta@ig.com.br
3. Escola Municipal Benedicta Blac Gonzalez -
a/c Vice-Diretora - Professora Simone
Av. Rio Solimões - Balneário Praia do Pereque, Guarujá - SP
CEP: 11446-090 Telefone (13) 3353-6360
e-mail: embenedictablac@guaruja.sp.gov.br
4. E.M. Profª Silvia Regina Schiavon Marasca 
a/c Diretor DD. Professor Alanderson Lopes dos Santos 
Avenida João Batista Leal, 241 - Centro, Itanhaém - SP 
tel. 3426-5826 
e-mail: silviareginaschiavonmarasca@hotmail.com
5. Escritores adicionados do Acervo dos Escritores Santistas: Demarchi, ChristinaAmorim, Alessandro Atanes, Carlos Gama, Clara Sznifer, Flávio Viegas Amoreira, ManoelHerzog, Helle Alves, Isabella Pawlak, Julia Mikita, Luiz Antonio GuimarãesCancello, Madô Martins, Mahelen Madureira, Maria José Goldschmidt, MariaValéria Rezende, Marcelo Ariel, Marcelo Ignacio, Marcia Costa, Márcio Barreto,Maurilio Campos, Rafael Motta, Raul Christiano, Regina Alonso, Ricardo Rutigliano Roque, Rossidê Rodrigues Machado, Sergio Willians e Tarso Ramos, FranciscoUbaldo Vieira, Valdir Alvarenga e Elcio Secomandi;
6. Leitores adicionados do Acervo dos Escritores Santistas: Ricardo Rutigliano Roque, João Paulo Charleaux, RogérioBaraquet, Maurilio Campos, Marcelo Ariel, Francisco Ubaldo Vieira, Carlos Gama,Catharina Apolinário, Marcia Costa, Madô Martins, Leia Santos, Léo de Oliveira,Maria Teresa Teixeira Pinto, Marly Barduco Palma, Raul Christiano, Jamir Lopes,Mahelen Madureira, Rafael Palmieri Brandão Celestino, Célia Faustino, JuliaMikita, Tere Penhabe, Marcus Vinicius Batista, Antonio Do Pinho Miguel Alves, ReginaAlonso, Sergio Willians, Aurora Fernandez Rodriguez, Lincoln Spada, Maria JoséGoldschmidt, Artesanal Livros, Sueli Aparecida Lopes, Lidia Maria de Melo, MariaValéria Rezende, Argemiro Antunes, Luiz Antonio Guimarães Cancello, Helle Alves,Marcelo Ignacio, Rodrigo Lucheta, Jasper Lopes Bastos, Márcio Barreto, LuizSoares de Lima, Jam Pawlak, Marcelo Rayel Correggiari, Rossidê RodriguesMachado, Osvaldo DaCosta, ChristinaAmorim, Mahelen Madureira, Francisco Elíude,Flávio Viegas Amoreira, EvanildeGomes, Clara Sznifer, Rafael Motta, Maria Heloisa Souza Mello, Tarso Ramos, GermanoQuaresma, Edite Capelo, Alice Mesquita,Kedma O'liver, Carlos Lineu, LucianaPapale, Noelle Ventura, Isabella Pawlak, Paulo Della Rosa Junior, DenisBandeira, Luiz Banks, Sueli Kezerle Andrade, Ednor Messias, Aline Aguiar, FátimaQueiroz, Sansão Meschini, Ana Lúcia Pacheco, Glaucia Canêo, Armando Akio, CarlosPimentel Mendes, Antonio Taveira, Edilza Lira S. Fernandes, Ana Maria GuerrizeGouveia, Ana Maria Cardoso, Orleyd Faya Corrêa, Lucas Sansao Teixeira, MariaAngelica Patio Vasques, Rosemary De Assis Assis, Feifis SudVillaverde, MaurilioCampos, Claudia Alonso, Paulo Libório, Mirian Pascon, Elisabete Matos, MarcusCabaleiro, Andrea Chioccarello, Elisenilda Cristina de Almeida, Roque Furtado, AssmaGabriela, Arquimedes Machado, Alvaro Carvalho Jr, Rani Bacil Fuzetto, NadjaSoares, Joao Carlos, Ana Lucia Pacheco, Helyete Santos, Alessandro Atanes, MariaRachel Filgueiras Guimarães, Beatriz O Royer Massonetto, Cleide Zanelato, BrunoOliveira De Carvalho, Miguel Soares, Miriam Silvino Lima, Joana Pereira Roge, EdNucci, Flávio Viana, Maryland Faillace, Elcio Secomandi, Beatriz Arnaldo, MoisesBueno, Roberto Soares, Ricardo Vasconcellos, Rodrigo Savazoni, Felipe deMedeiros, Valéria Fazio, Roberta Vidal, Júnior Batista, Sonia De Barros Alberto,Gisele Afeche, Miguel Couto, Francis Pereira, Ronaldo Andrade, AderbaldaTolentino Rodrigues, Sonia Teixeira, Oswaldo Silva Junior, Silvio Bergamini, DeiseMarco, Raimundo Rosa, Olimpio Coelho de Araujo, Fábio Luiz Salgado, NadjaSoares, Roberto Soares, Edson Santana Carmo, MariaLuiza De Paiva Diniz, ThiagoPorto, Rosilma Menezes Roldan, Edson Maiane, Wagner Leite Miguel Soares, Sara Bittante Albino, Jacob Morêno, Adilson Luiz, Cecília Rios e EddyPaiva, Vinícius Kepe, Fábio Dos Santos, Darlan Santana Junior, Gabriela Duarte, Anna Flavia Ribeiro, Bárbara Ignez, Marcia Enedina Atanes Pita, Adair Paiva, Sérgio Tadeu Marques Gonçalves, Ongamigos Desantos;
7. SÃO VICENTE, Prefeitura Municipal e Secretaria Municipal de Saúde; Processo nº 35.267/08-5, aberto em 27/08/2008, junto ao DAS/D PROTOCOLO, e no mesmo dia em Santos;
8. Links de autorais canções - em parcerias, e filme, abaixo relacionados (a-h):
a) Fortaleza da Barra Grande - https://www.youtube.com/watch?v=AQ4... ;
b) Epitáfio de Um Amor Filial - Roque & Baraquet, https://soundcloud.com/user10947544... ;
c) Chatice Sem Você - Roque & Baraquet, https://soundcloud.com/user10947544... ;
d) Reboca o Navio - Roque & Baraquet, https://soundcloud.com/user10947544... ;
e) Caiçara Poética - Roque & Baraquet, https://soundcloud.com/user10947544...
f) Brincante Charleaux - Roque & Baraquet, https://soundcloud.com/user10947544... ;
g) Desculpa - Roque & Baraquet, https://soundcloud.com/user10947544... ;
h) Sua Música - Roque & ..., https://soundcloud.com/user10947544... ;
9. Livros (a-k)
POÉTICOS:
a) Cone Surreal (pulverizado nos demais livros - b-e).
b) Fortaleza da Barra Grande (*).
c) Poesia à Rua.
d) Caiçara em Haicai.
e) Uma Chama Atlântica.
f) Da Mata Atlântica ao Neruda.
g) Diálogo Caiçara com Saturnino de Brito.
h) Julio Charleaux Neumman Roque (apenas para familiares).
i) Lincoln Roque Borges (apenas para familiares).

* "Um tiro certeiro na história da Baixada Santista' [...] 'Os mares ficaram agitados sob a lua cheia na Baía de Santos. O navio... acertara com tiros de canhão à esquadra..., ancorada há um mês na Cidade. [...] Surgiria assim a história da fundação da Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande [...] Tal data inspirou a Sociedade dos Poetas Vivos, durante encontro, [...] , no Sesc. [...] Ricardo Rutigliano Roque lançou o livro artesanal Fortaleza da Barra Grande, que faz memória ao ataquepirata, além de uma coletânea de textos (prosa,poesia e haicais) de sua carreira desde 1991. Roque ressalta a importância do resgate histórico e compara a fortificação a um corvo:' Que a todos espreita e, ao abrir de janela, está lá, olhando para aqueles que com sutileza o enxergam. [...] 'espera contagiar outros escritores a se aprofundarem na história da Fortaleza [...] no blog" (*)... - Lincoln Spada em "A Tribuna" - caderno Local, 24 de janeiro de 2013, p. A-11, Santos, SP, Brasil.
CONTOS - predominantemente:
j) Deságue - Em Santos, Catando Guaru; projeto literário classificado com 70 pontos no edital do FACULT 2 - Fundo de Assistência à Cultura de Santos, 2011; D.O. - Diário Oficial de Santos, de 02.12.2011 , p. 17 - acessível no link: https://www.egov.santos.sp.gov.br/d...;
ROMANCE:
k) Mar Selvagem - classificado no Concurso SESC de Literatura - 2015;
10. Delegado na 1ª. Conferência Nacional de Saúde Ambiental – Brasília, desde 2009: eleito como representante da A.M.S. na Pré-Conferência de Saúde Ambiental; assim como delegado municipal na 1ª Conferência Municipal de Saúde Ambiental de Santos; tanto eleito na 1ª. Conferência Regional de Sorocaba: delegado regional da região ampliada; quanto eleito delegado estadual na 1ª. Conferência Estadual de Saúde Ambiental do Estado de São Paulo, indo à nacional 09-12/dezembro/2009;
11. Pequeno e resumido currículo, em pertinência , de Ricardo Rutigliano Roque, que escreve desde 1991. Livros:Deságue–Em Santos, Catando Guaru–ensaio e conto(¹); Fortaleza da Barra Grande,Poesia à Rua, Caiçara em Haicai, Uma Chama Atlântica, Da Mata Atlântica ao Neruda e Diálogo Caiçara com Saturnino de Brito – poesia (²); Mar Selvagem - romance(³); Liberto de Si-novela (4); editoria (5); antologia (6); oficina literária (7); performer (8) e produção cultural (9).
1 - FACULT-2011 – classificado com nota sete;
2 - “Acervo dos Autores Santistas’ – ‘Biblioteca Mário Faria”, 2015;
3 - "Prêmio SESC de Literatura 2015" - classificado;
4 - “Como Escrever Um Livro” - em oficina atual;
5 - Caiçara Catadora – artesanal;
6 - “Cafezinho Médico Literário’,‘Sociedade dos Poetas Vivos’,‘Grêmio de Haicai Caminho das Águas”- grupos literários;
6’ - “Oficina de Literatura II' - 'Estação da Cidadania";
7 – “Escola Estadual Santa Cruz dos Navegantes” – Guarujá, 2013 - oficineiro;
8 – Saturnino de Brito – 150 anos de nascimento, em parceria com Instituto Histórico e Geográfico de Santos, em praça pública;
9 - Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande - pintura do monumento, em 1991, autor, coordenador e produtor - com 500 escoteiros, e chefe da Tropa II - "Grupo Escoteiro Morvan Dias Figueiredo".

domingo, 12 de junho de 2016

Pescador Caiçara no Acervo, Guarujá – seu cenário poético.

Pescador Caiçara no Acervo, Guarujá – seu cenário.
Acervo dos Escritores Santistas –
06 de maio de 2016 - 6ª. Feira, das 10:25h as 11:50h
Escola Benedicta Blac Gonzalez -
Guarujá – S.P.

01. Para Gilberto Mendes (tentando definir o que me ocorre ao ouvir sua música para piano)

"Um sentimento oceânico,
Ondas de saudade da humanidade,
Uma passagem de outra Odisséia
Onde Ulisses está numa gruta e o ciclope pergunta:
“Quem é?”
E ele responde:
“Ninguém, meu nome é ninguém”.
Ao ouvir sua música
Sinto que qualquer homem pode ser Ulisses
Caminhando na praia ao entardecer
Se na gruta de si mesmo ecoa em tudo
A pergunta do ciclope-mundo.
Penso em John Cage (agora) num pássaro
E na religião de Satie, no conto de Attar
Que narra a estória de um menino
Que quase se afogou
Ao enfiar o ouvido no mar
E ao ser indagado respondeu que
“uma vez ouviu numa concha o som do oceano
E ao mergulhar a cabeça na água pretendia ouvir
No oceano o som de uma concha”.
Mas é inútil,
Nenhuma fase será capaz de traduzir
Esse vítreo sentimento vasto,
Melhor é passear na orla
Enquanto a música relembrada
Anda na água.'

Marcelo Ariel -
'Tratado dos Anjos Afogados", pág. 126 – ‘LetraSelvagem” , 2008 – Caraguatatuba, S.P.;

#acervodosescritoressantistas


02. "O Caiçara e o Eremita'
'...
Bananeiras, goiabeiras, milho, mandioca e a cana de açúcar para destilar e fazer sua pinga e beber sua cachaça, que na juventude foi motivo de tanta desgraça. Desgraça palavra sem graça, amor depois vem a dor, uma fórmula perfeita para o palco das tragédias. Pequeno barco no mar Caiçara se espalha no oceano, peito aberto para o horizonte infinito de um belo dia de sol, o dia de pesca foi bom o suficiente para seu fumo e sua bebida. Atraca com o seu barco na praia, vende seu peixe compra o que tem que comprar e... Retorna a seu barco remando para sua palhoça na boca do rio, ...'

Marcelo Ignacio -
'Momento do Autor VIII" , pág. 19, Ed. CONCULT, 2012 - Santos, S.P.;

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03. 
"Das mãos calejadas
ao aconchego da terra -
Semear outra vez...'


Helô Mello - Maria Heloisa Souza Mello -
'Haicai Caiçara" , pág. 22, ed. Vice Rei - 2012 - São Vicente, S.P. ;

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04. "À Deriva'

'Só e à deriva, como nau na calmaria.
Uma brisa sequer que lhe alente a navegada.'

Carlos Gama -
'Conjeituras, sobretudo", pág. 8, ed. All Print - 2011, São Paulo, S.P.;

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05. "Minha Rua, Minha Cidade'

'- Aquelas luzinhas são assim, andantes, porque é o vento que as empurra para onde ele quer. Veja, como hoje está ventando.'

Gessilda Porto Alegre Falcão -
'Ponto de Vista" , pág. 110-3, ed. da autora – 2003, São Paulo, S.P.;


06. Vi Quem Habita Sua Alma (¹,²)


Vi quem habita sua alma, / onde ao lado quis minha morada fazer, / coube a você decidir / e a mim aos sentimentos obedecer. / A maciez de minhas intenções / beijou de olhos fechados/ seu reticente sentimento, / agora numa direção / do néctar caudaloso/ que norteia voo de beijaflor, / e dá descanso ao rastejar de rapina / por mero aconchego / em meio ao deserto / até ali sem sombra.

Ricardo Rutigliano Roque -


1. Saturnino de Brito em Diálogo Caiçara, página 17, ed. Caiçara Catadora de Capa Artesanal – 2014, Santos, S.P. (*)

* Em 14 de julho de 2014 – efeméride dos 150 anos do nascimento desse sanitarista, escreveu o livro à convite do IHGS - Instituto Histórico e Geográfico de Santos, ao participar poeticamente - desafio aceito e demanda enfrentada assim: a) encenando, b) dando voz à mulher, à estátua do pescador caiçara - incólume até então, na praça do Aquário Municipal de Santos;

2. Mirante 92, pág. 56 - Edição independente de Valdir Alvarenga e Irene Estrela Bullões - abril de 2016, Santos, S.P.

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07. "Meu destino'

'...

Meu caminho está ornado,
Pela beleza das flores,
Mas, são as palavras amigas,
Que aliviam minhas dores.'

Christino Candido Portela -
'Poetando", pág. 28 - ed. independente da Sociedade dos Poetas Vivos - 2013, Santos, S.P.;


08. “Conversando com Emily Dickinson e Wislawa Szymborska'

'...
São águas sonhando
escrevendo sua elegância
nas pedras
deste Rio
que confundimos
com o mar
assim meu amor
por ti
ao criar a si
desperta de dentro
de um crescente vazio
vozes sublimes
que ao próprio Deus chamam
porque e unem
ao que amam
Barco feito de troncos
Vagando em direção
A um oceano de lembranças
Que tempo nenhum alxança
Partes do infinito
Encontrando sem que saibamos
Como ou com que arte
Em nosos corpos
Sua melhor parte.’

Marcelo Ariel -'Retornaremos da Cinzas para Sonhar com o Silêncio”, págs. 16-17, Ed. Patuá - 2014, São Paulo, S.P.; #acervodosescritoressantistas


09. 
 Em bucólica paisagem
forte correnteza -
Barco no mar liso.

Ricardo Rutigliano Roque -
http://libertodesi.blogspot.com.br/2016/04/barco-em-haicai.html?zx=25be393831effa96

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10. Remar e Apedrejar.

Se o êxtase imobiliza,
tanto mulher quanto pescador,
isso faz superfície rasgares,
movimentares o renascido
tempo presente do paraíso -
que se desfaz a todo instante,
ao remares ou jogares pedra,
no que reflete azul infinito.

Ricardo Rutigliano Roque -
http://libertodesi.blogspot.com.br/2016/04/remar-e-apedrejar.html

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11. Atlântica Desembocadura, Rumo ao Barco Vizinho – 150 anos de Vicente de Carvalho.

Fica em digna postura -
pra sua alma irreprimível
remar mais do que é seu barco.

Há ousadia da maré
endereçada aos ouvintes
dentre eles está você.

Pluvial água - percepção menino,
nesse fluxo está ao adentrar
no canal do estuário, longe perto -
manobra exótica como a sua,
veia para navegação do que há,
ao passar pelo deck dos sentidos.

Até umedece a aridez -
areia em próxima praia palmilha.
Disponíveis recortes mimos,
remados pelo seu barqueiro
insubmisso aos navegantes.

Dá leitura aos cem barcos nus,
pra presenciar oceano -
sentir entregue ao olhar.

Menina em salobra mistura há,
acalentado peixinho guarú,
esta evocação de limite – mar,
circunscrito nesse avizinhamento,
mas, em maré vazante vai até
se distanciar na conquista d’água
oceânica encoberta em brumas,
em vazantes e enchentes - você.

Percepção há de haver que
transcreva antologia imersa
na ausência de alguns sabores.

Já que você é homenagem,
em alquimia à transformar
versos naquela maresia.

Quebrasse inércia, Vicente de Carvalho -
de pé - fronte à dureza, jardim fomenta,
ladeado em aconchego de uns traços
benedictino-calixtos em suas águas,
mar - por ambos assistido, é atlântica
desembocadura – no céu, são lonjuras.

Mediante minha leitura,
que na rede eu sirvo a todos -
aos pressupostos mais nadantes.

Fechem essa minha janela
à nossa não cumplicidade
pra que a lua não a espie.

Ricardo Rutigliano Roque - http://acervodosescritoressantistas.blogspot.com.br/2016/04/atlantica-desembocadura-rumo-ao-barco.html

#acervodosescritoressantistas


12. "Sou Poeta.’

‘Sou poeta do vento
não me atento ao tempo.

Sou poetisa da lua
carrego a alma nua.

Sou poeta do sol,
do mar, o farol.

Sou poetisa das estrelas,
dos espinhos e das roseiras.

Somos um plural de vozes e fonemas
Em um singular desejo de formar poemas.”

Vanessa Ratton -
Mirante 92 – pág. 58, Edição independente - Valdir Alvarenga e Irene Estrela Bullões - abril de 2016, Santos , S.P.;


13. “Flor do Passado.’

‘Aquela flor está ali, ao alcance de minhas mãos;
bastava esticar os braços para apanhá-la
mas, fiquei pensando se valia a pena...
E o barco de minha vida desceu rio abaixo.

A flor ficou para trás.
Ainda hoje sinto o seu perfume envolvendo meu barco.
Mas,por mais que eu queira, não posso voltar;
a correnteza do rio do tempo me leva para frente.

Como gostaria de ver o rio mudando o seu curso
Ou aquela flor boiando sobre as águas...
Pura ilusão!
A natureza é mesmo assim:
começo, meio e fim.

O que aconteceu àquela flor?
Deixou-se alcançar por outros braços
ou murchou-se de tristeza em solidão?

Em mim, só ficou a beleza de seus traços
E, no coração, um aperto, um nó,
Um simples 'senão'!"

Maria Ignez Urban Pimentel –
Mirante 92 – pág. 55, Edição independente - Valdir Alvarenga e Irene Estrela Bullões - abril de 2016, Santos , S.P.


14. Em Perequê.

Perequê é essa praia
que visita o seu querer
em luzes que iluminam
meninice tão pesqueira.

O Canal da Barra Grande
lá da branca fortaleza-
fica atrás de suas casas,
pescador-mar, mulher-vento.

A esmerada pesca havida
é mostrada ao visitante -
tanto sabor estimula
seu comer ao petiscar.

É como casa de praia
quando você se assenta
numa rede costurada -
montada como anzol.

Pescador é corajoso
pesca no mar que é bravio,
seus guiados dedos nós,
encurvados, sal ao sol.

Ricardo Rutigliano Roque –
http://libertodesi.blogspot.com.br/2016/04/em-pereque.html .

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15. “Imprecação.’

‘Por que me deste
Um barco tão pequenino
Para um mar tão grande assim?

Sem remo sem vela
Sem roteiro e sem bonança
Não terá praia sem fim

Se ao menos o meu barquinho
Pudesse ser ancorado
Num grão de areia sequer

Mas onde está essa ilha
À vista do meu batel?

Quando me fizeste ao largo
Não viste que minha frota
Era papel?

Como queres que eu navegue
Por esse mar tenebroso
Numa lembrança de barco?

Pois agora lá de cima
Manda uma ilha fincada
Numa âncora de luz

O mar não será tão grande
Nem o braço tão pequeno
No horizonte sem fim.’

Anderson de Araujo Horta –
‘Poetizando”, pág. 26, Ed. Eunice Mendes e Walmor Dario Santos Colmenero – 2009, Santos, S.P..


16. “Imobilidade.

‘Pelo vão da janela,
Só um galho
Seco
Retorcido
- nenhuma gota de orvalho.

Pela estreita passagem,
Retalho de ondas,
Pedaço de mar,
Só uma asa
- miragem.

Pela réstia de luz,
Nem meia varanda,
Nesga de chão,
Só um pé
- que não anda.

Do meu ângulo oculto,
Só o meu olhar
- sepulto.’

Regina Alonso –
‘Poetizando”, pág. 38 - Ed. Eunice Mendes e Walmor Dario Santos Colmenero – 2009, Santos, S.P.;

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17. “Ode ao Mar.’

‘Aqui na ilha
o mar
e quanto mar
se sai de si mesmo
a cada instante,
diz que sim, que não,
que não, que não, que não,
diz que sim, em azul,
em espuma, à galope,
diz que não, que não.
Não pode se estar quieto,
me chamo mar, repete
pegando em uma pedra
sem lograr convencê-la,
então
com sete línguas verdes
com sete cachorros verdes,
de sete tigres verdes,
de sete mares verdes,
à percorre, à beija,
à umedece
e se golpeia o peito
repetindo seu nome.
Oh mar, assim te chamas,
oh camarada oceano,
não percas tempo e água,
não te sacudas tanto,
nos ajude,
somos os pequeninos,
pescadores,
os homens da orla,
temos frio e fome
sois nosso inimigo,
não golpeies tão forte,
não grites desse modo,
abre tua caixa verde
e nos deixa a todos
nas mãos
teu presente de prata:
o peixe de cada dia.
Aqui em cada casa
o queremos
e ainda que seja de prata,
de cristal ou de lua,
nasceu para os pobres...’

Pablo Neruda –
‘Ondas Elementares” p. 154-6 – Pehuén Editores – 2010, Santiago, Chile.


18. “Natureza Morta

'Procurei acender de novo o cigarro
Por que o poeta não morre?
Por que esse mar idiota não cobre o telhado das casas?
Por que existem telhados e avenidas? Por que se escrevem cartas
e existe o jornal? Que monótono o mar!
Estou espichada na tela como um monte de frutas apodrecendo.
Se eu tivesse unhas
Enterraria os meus dedos nesse espaço branco
Vertem os meus olhos uma fumaça salgada
Este mar, este mar não escorre por minhas faces
Estou com tanto frio, e não tenho ninguém...
Nem a presença dos corvos.'

Pagu – Patrícicia Galvão –
‘de Pagu a Patrícia – O Último Ato”, pág. 20, de Márcia Costa, Ed. Dobra Editorial - 2012, Santos, S.P. .

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19. ‘Conquistei um deserto’.

‘Já caminhei muito... Jamais cansei...
Vislumbrei horizontes...
Recebi luzes e energias...
Visões esplêncidaas nessa caminhada.
Venci algumas lutas... Perdi outras...
Sorri para a vida,
Cantei nas horas alegres... Fechei o semblante,
Chorei nas tragédias... Comemorei vitórias...
Entristeci-me nas derrotas
Sem conformismo...
Conheci gente boa... Conheci gente ruim...
Conheci gente que não é gente...
Vi a morte de perto... Briguei feio com ela, afinal...
Ainda não era hora...
Xô com essa foice! E ela foi-se...
Nadei m águas límpidas...
Hoje o mar é sujo, de lama...
A estrada de bom asfalto
Hoje está ruim... Terra é melhor,
Mas não em cima...
Continuo no caminho,
Perto dalinha de chegada... O que conquistei?
Um deserto imenso...
Mas... O que tem um deserto imenso?
Ah, sim... Um oásis...
Vou atrás dele...
Deve dar tempo.’

Arnaldo Agria Huss –

‘Poetando” – pág. 15, Ed. Sociedade dos Poetas Vivos -Santos- 2013, Santos, S.P.


20. A Força do Manguezal. Para Quê?

Na mudança de postura: troquei a moldura;

Pavimentei nosso jardim: desapareceu o jasmim;

O novo caminhar: faz-me repensar;

Na quebra do asfalto: mangue enfraquece o salto;

A culpa do muro: é nenhuma no escuro;

No aroma de flor alehria: ouvi apenas canto de sereia.

Ricardo Rutigliano Roque –
A Presença Literária do MMCL – Movimento Médico Paulista do Cafezinho Literário (2005-2008) – pág. 85, Ottoni Editora – 2008, org. William Moffitt Harris e Allitta Guimarães Costa Reis, Itu, S.P.

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21. “Lua Rouxinol

‘...Por que temos que comer feito meninos jogando futebol? Somos peregrinos correndo do finito. Metáforas de Luas no altar. Aniquilo as vedetes do meu sono. Mutilado sou das preferências das imagens. Permita-me perseguir os teus leões. Eles consomem os violões dos mártires resplendidos nos vencedores dos festivais... Parta em mim os andarilhos aprisionados nas melodias dos garotos que cantam à minha porta e vêm caminhando pela areia e aguçam notas que parem minha poesia. Muito mais que vencedores eles cantam. Cantam aquilo que vivemos em nossas almas retraídas em partidas e abandonos. Abandonas-me quando partes para tua vida. Sou frágil sol que se finda. Sou fraco quando me inspiras. Sou nada nas tuas buscas. Permita-me pertencer àqueles que lutam por um mundo que não tem jeito que vai dar certo. Não existes e me proíbo de procurar o reverso. Tento salvar o momento e ele escapa. Procuro-te nas aparições que tratam meus anzóis como se fosse um momento de participação na realidade. Fazes-te presente na hora que esfria minha inspiraçã. No tempo em que eu era pagão tinha tranquilidade para partir. Agora que percebo o sagrado adormeço em ti e os dias são sempre de outono. Anoiteço ainda cedo, mas não tão tarde que me dê sono.Neste entre noite e entre dia entretenho-me a divagar o que é da minha vida. As vozes que cantam os lamentos da lagoa refletem a Lua que bate nas janelas semi-cerradas dos becos da minha alma....'


Maria José F. Goldschmidt –
‘Lua Rouxinol’, Ed. ‘All Print” – 2011, pág. 49, São Paulo.

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22.


"Rampa até o mar –
Pedras cobertas de limo
e tantos sirizinhos.’


Regina Alonso –
‘Santos – Natureza e Arquitetura em Fotopoemas”, Ed. Ramiro Simões Pereira Gameiro Me. - 2012, 2ª. Tiragem, pág. 27 – São Paulo.

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23.
Suave chegada –
a maré de primavera
nas brancas areias.

Voa pintassilgo –
Suas belas asas pretas
Como areias ondulam.

Após chuva fina
efêmera beleza –
crepúsculo de verão.


Ricardo Rutigliano Roque –
Haicai Caiçara , Ed. Vice Rei – 2012, pág. 50-51, 2012 – S.P.

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24. "Liberdade.’

'Pássaro na gaiola
sem suas asas bater
amor dentro do peito
sem nada poder fazer
liberdade domada
pelo homem, forte ser

vontade castrada
domina o bem querer
pássaro quer o vento
a altura quer vencer
amor quer aconchego
do amor que receber

ser livre para viver
ser forte e lutar

ser livre...
vo
ar...
so
nhar,
a
mar...'

Kedma Oliver –
‘Um Sonho em Minhas Mãos”, Editora Folha da Baixada – 2009, pág.77, Praia Grande.

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25. “A Gaivota

‘O horizonte é tão vasto
E as nuvens vão longe longe longe,
talvez se espedaçarem
atrás dos morros.

Na praia,
o orgulho das ondas,
coroado de espumas, vai se espedaçando
de encontro aos rochedos.

Na areia,
anda uma gaivota.

Danças no vento,
Ilhas no tempo,
Pouso, saudade...

...

E ela anda,
pequenina gaivota
com o seu olhar profundo,

pequenina e silenciosa
como se pensasse o mundo.’


José Candido F. Junior –
‘Beira Mar", Ed. 3D DESIGN ESTÚDIO & COMUNICAÇÃO – 2015, pág. 48, Santos – S.P.


26. "Farol sem lume

‘...
seu delírio escorre
na torre de vigia
rente ao léu o tombadilho espreita
divisa algum murmúrio insolente de estrelas’


Flávio Viegas Amoreira –
‘O Vazio Refletindo na Luz do Nada", Editora Kazuá – 2015, p. 51, São Paulo.

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27. “Deixa-me Seguir para o Mar

‘Tenta esquecer-me... Ser lembrado é como
evocar-se um fantasma... Deixa-me ser
o que sou, o que sempre fui, um rio que vai fluindo...

Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
me recamarei de estrelas como um manto real,
me bordarei de nuvens e de asas,
às vezes virão em mim as crianças banhar-se...

Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir... é seguir para o Mar,
as imagens perdendo no caminho...
Deixa-me fluir, passar, cantar...

toda a tristeza dos rios
é não poderem parar!’


Mário Quintana –
‘Rua dos Cataventos e outros Poemas”, L&PM Pocket - 2012, p. 87 – Porto Alegre, R.S.


28. “Querias que eu falasse de ‘Poesia

‘Querias que eu falasse de ‘poesia’ um pouco
mais... e desprezasse o quotidiano atroz...
querias... era ouvir o som da minha voz
e não um eco – apenas – deste mundo louco!

Mas que te dar, pobre criança, em troco
de tudo que esperavas, ai de nós:
é que eu sou oco... oco... oco...
como o Homem de Lata do “Mágico de Oz”!

Tu o lembras, bem sei... ah! o seu horros
Imenso `s lágrimas... Porque decerto se enferrujaria...
E tu... Como um lírio do pântano tu me querias,
como uma chuva de ouro a te cobrir devagarinho,
um pássaro de luz... Mas, haverá maior poesia
do que este meu desesperar-me eterno da poesia?!’


Mário Quintana –
‘Rua dos Cataventos e outros Poemas”, L&PM Pocket - 2012, p. 89 – Porto Alegre, R.S.


29. “A Missa dos Inocentes

‘Se não fora abusar da paciência divina
Eu mandaria rezar missa pelos meus poemas que não
            [conseguiram ir além da terceira ou quarta linha,
Vítimas dessa mortalidade infantil que, por ignorância
            [dos pais,
Dizima as mais inocentes criaturinhas, as pobres...
Que tinham tanto azul nos olhos,
Tanto que dar ao mundo!
Eu mandaria rezar o réquiem mais profundo
Não só pelos meus
Mas porto dos os poemas inválidos que se arrastam
            [pelo mundo
E cuja comovedora beleza ultrapassa a dos outros
Porque está, antes e depois de tudo,
No seu inatingível anseio de beleza!’

Mário Quintana –
‘Rua dos Cataventos e outros Poemas”, L&PM Pocket - 2012, p. 94 – Porto Alegre, R.S.


30. “Especulação Imobiliária

‘Construíram um edifício
No quintal da minha infância
Gente grande não entende
Que dói mais crescer assim
Hão de fazer lança-mísseis
Nos play-grounds dos filhos deles
Alguns crescerão tristes
Outros eternos inertes
Pula-pula, pega-pega,
Gira-gira e vídeo-game
Passa anel e passa o tempo
E cabra-cega enxerga além
Ficaram os trilhos da infância
Na maquete do meu trem
E vamos passear no bairro
Enquanto a ganância não vem’

Jean Garfunkel –
‘Poemia”, Criar Edições -2010, p. 30, São Paulo.


31. “O Barco

‘Mas se já pagamos nossas passagens neste mundo
por que, por que não nos deixam sentar e comer?
Queremos olhar as nuvens,
queremos tomar o sol e cheirar o sal,
francamente não se trata de incomodar ninguém,
é tão simples: somos passageiros.

Vamos todos passando e o tempo conosco:
passa o mar, a rosa se despede,
passa a terra pela sombra e pela luza,
e vocês e nós passamos, passageiros.

Então, o que se passa?
Por que vocês andam tão furiosos?
Procuram quem com o revólver?

Nós não sabíamos
que tinham ocupado tudo,
os copos, os assentos,
as camas, os espelhos,
o mar, o vinho, o céu.

Agora o que acontece
é que não temos mesa.
Não pode ser, pensamos.
Não pode nos convencer.
Estava escuro quando chegamos ao barco.
Estávamos nus.
Todos nós chegávamos do mesmo lugar.
Todos nós vínhamos de mulher e de homem.
Todos nós tivemos fome e depois dentes.
A todos cresceram as mãos e os olhos
para trabalhar e desejar o que existe.

E agora inventam que não podemos,
que não tem lugar no barco,
não querem nos saudar,
não querem nos julgar.

Por que tantas vantagens para vocês?
Quem lhes deu a colher quando não haviam nascido?

Aqui não estão contentes,
assim as coisas não andam.

Não gosto de, na viagem,
encontrar, nos lugares, a tristeza,
os olhos sem amor ou a boca com fome.

Não há roupa par este outono crescente
e menos, menos, menos para o próximo inverno.
E sem sapatos como vamos dar a volta
ao mundo, a tanta pedra nos caminhos?
Sem mesa, onde vamos comer,
onde nos sentaremos se não temos cadeira?
Se é uma brincadeir triste, decidam-se, senhores,
a terminá-la logo
a falar sério agora.

Depois o mar é duro.

E chove sangue.’


Pablo Neruda –
‘Navegações e Regressos”, MEDIAfashion – 2012, pág. 21-23 – São Paulo.


32. “Negrinha

   ‘...
   Quem lhe ensinou a dançar?
   Tudo. O sangue estuante em suas veias, o vento que agita a fronde das jissaras, o remoinho das águas, as aves. Viu dançarem os tangarás, um dia, e desde esse momento sua vida é uma contínua e maravilhosa criação em que a alma da terra americana se exsolve em movimentos rítmicos.
   Sempre mulher, Marabá amansou uma veadinha de leite e tem-na consigo como inseparável companheira, dócil ás suas expansões de carinho. Com a pequena corça brinca horas a fio, e abraça-a, e beija-a no mimoso focinho róseo.
   Que festa, a vida de Marabá!
   Ninguem a vence em riqueza. Ouro, dá-lhe o sol ás catadupas, e todo só para ela. Perfume, não em frascos microscópicos o tem, mas ambiente, perenal; as flores só exalam para ela, e todas as brisas se ocupam em traze-lo de longe, tomando da corola das orquídeas mais raras.
   E as abelhas ofertam-lhe o mel puríssimo: e os ingazeiros de beira-rio dão-lhe a nívea polpa dos seus frutos invaginados; e cem arvores da floresta parecem precipitar a maturescencia de suas bagas rubras, roxas, verdoengas, para que mais cedo os alvos dentes da ninfa as mordam com delicia.
   E os dias de Marabá são assim um delírio de luz, de perfumes, de movimentos sadios e livres, capaz de enlouquecer a imaginação dos pobres seres chama os homens, que vivem em prisões chamadas cidades, dentro de gaiolas chamadas casas, com poeira para os pulmões em vez de ar, catinga de gasolina em vez de vida.’

Monteiro Lobato –
‘Negrinha”, Ed. Brasiliense – 1981, 21ª edição, p. 148 – São Paulo.


33. “Ode triunfal

‘...

Na loura manhã que se ergue, como o meu ouvido só escolhe
As cousas de acordo com esta emoção – o marulho das águas,
O marulho leve das águas do rio de encontro ao cais...,
A vela passando perto do outro lado do rio,
Os montes longínquos, dum azul japonês,
As casas de Almada,
Eo que há de suavidade e de infância na hora matutina!...

Uma gaivota que passa,
E a minha ternura é maior.

Mas todo este tempo não estive a reparar para nada.
Tudo isto foi uma impressão só da pele, como uma carícia.
Todo este tempo não tirei os olhos do meu sonho longínquo,
Da minha casa ao pé do rio,
Da minha infância ao pé do rio,
Das janelas do meu quarto dando para o rio de noite,
E a paz do luar esparso nas águas...
...
Ah, e as viagens, as viagens de recreio, e as outras,
As viagens por mar, onde todos somos companheiros dos outros
Duma maneira especial, como se um mistério marítimo
Nos aproximasse as almas e nos tornasse um momento
Patriotas transitórios duma mesma pátria incerta,
Eternamente deslocando-se sobre a imensidade das águas!
Grandes hotéis do Infinito, oh transatlânticos meus!
Com o cosmopolitismo perfeito e total de nunca pararem num ponto
E conterem todas as espécies de trajes, de caras, de raças!

As viagens, os viajantes – tantas espécies deles!
Tanta nacionalidade sobre o mundo! tanta profissão! tanta gente!
Tanto destino diverso que se pode dar à vida.
À vida, afinal, no fundo sempre, sempre a mesma!
Tantas caras curiosas! Todas as caras são curiosas
E nada traz tanta religiosidade como olhar muito para gente.
A fraternidade afinal é uma ideia revolucionária.
É uma coisa que a gente aprende pela vida fora, onde tem que tolerar tudo,
E passa a achar graça ao que tem que tolerar,
E acaba quase a chorar de ternura sobre o que tolerou!
Ah, tudo isto é belo, tudo isto é humano e anda ligado
Aos sentimentos humanos, tão conviventes e burgueses,
Tão complicadamente simples, tão metafísicamente tristes!
A vida flutuante, diversa, acaba por nos educar no humano.
Pobre gente! pobre gente toda a gente!

Despeço-me desta hora no corpo deste outro navio
Que vai agora saindo.
   ...’

Fernando Pessoa –
‘O eu profundo e os outros eus”, Editora Nova Fronteira – 2006, p.282, 288-289 – Rio de Janeiro.


34. “A noite de sábado


   ‘...
   Os braços lhe caíam ao longo do corpo e, mandado pelo aquecimento da caminhada, encostara a cabeça na parede, oferecendo o pescoço à viração. Todas as atitudes e gestos dele era assim, duma graça masculina tão macia, duma sensualidade tão improvisada, que se diria uma mocidade de conto de fadas, em que tudo é o que a gente imagina como a perfeição do agradável. Se era de fato bonito, era principalmente simpático, uma dessas simpatias envolventes, invencíveis, que dão a quem se sente uma satisfação maravilhosa.
   Indivíduos desses consegue, quase tudo e poderiam dominar mundo se soubessem se aproveitar do invencível dom qiue possuem. Porque nós nos sentimos tão amigos deles, e especialmente tão alegres em lhes prestar serviço, que não temos jamais a mínima intenção de pedir compensação. Nós mesmos é que nos compensamos com a alegria de prestar serviço. O favor não é nosso, é antes deles, dessa simpatia encantada e sem promessa, da qual, porque é tão raro um universo bom assim, a gente não pede senão a dádiva dela ser simpática.’

Mário de Andrade –
‘Café”, Nova Fronteira – 2015, pág. 128-129 - Rio de Janeiro.


35. “Areal

‘Areia nos olhos
areia nos portos
o corpo vagando pela praia
sem sono, sem sonhos

Areia nos planos
alguns já tão velhos
quanto esta baía
de mar sempre manso

Areia no tempo
ampulheta partida
horizonte branco
coração vazio

Areia nos passos
que seguem a esmo
sem rumo ou abrigo –
tropeços na mágoa

Areia sem fim
árida, monótona
como a vida que pesa
cá dentro de mim’


Madô Martins –
‘Perdas e Danos”, Edições Caiçaras - 2012, p. 43, São Vicente – S.P.

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36. “O Peixe


   ‘...não mais nadando rápido, acabarei tragado nas guelras de um peixe maior, lá no mar azul, um mero, quem sabe. Preferia ir pro céu, meu corpo intacto, ressurreto. Tivesse eu alma.
   Paramos aqui todo dia, este ponto de oração é mágico. Juram os do bando – somos peixes de bando – que muitos foram arrebatados desde aqui, em discos voadores vermelhos e prateados. Do disco, os deuses lançam quitutes, baratinhas e camarões. Dizem que se veem camarões encantados por aqui. Nesta manh, incrédulo e boquiaberto, eu próprio vejo um: um camarão estranho, nadando imóvel, não bate as paletas, varia estático na água, como quem sobe degraus, sempre rumo ao céu. Às vezes vai além da superfície, junto com o disco vermelho que parte. Depois o disco aporta novamente, o camarão desce, escafandrista preso a um fio. Manjar dos deuses, maná.
   Bem escondido entre a galhada, fico a observar seu movimento. Está me convidando, é o chamado, a hora do meu céu. Aquele camarão encantado é o galardão, a conquista de uma vida de fé, de luta diária, subida e decida das marés, marés de quarto, fluxo e refluxo da vida, eu sempre ali, com fé, lutando a luta. O meu camarão, os deuses me chamam para a eternidade de glória.
   Pois lá está o camarão, parado, acaba de descer do disco. Vou sorrateiro até perto, projeto a cartilaginosa boca, toco o beiço nele. Na mesma hora a isca dá um solavanco, arroja-se diretamente pra fora da água, alguma coisa metálica me passa roçando a guelra direita, chega a arrancar algumas escamas, machuca. O camarão sumiu. Corro assustado pra detrás da galhada, onde fico a espreitar.
   Depois do susto, que agitou a superfície e provocou a ira dos deuses, muitos discos voadores chegam. Parece que eles percebem quando há robalos em busca da redenção, vêm em grupo lançar discos com camarões pendurados. Vejo alguns de meus companheiros de bando abocanhar corajosamente os camarões que descem dos discos. E vejo, com estes olhos cristalinos, que os siris hão de comer, serem levados aos céus, ascenderem sua existência piscina ao plano etéreo, à diáfana atmosfera do céu dos deuses. É minha hora.
   ...’

Manoel Herzog –
‘Os Bichos”, Realejo Livros – 2012, p. 30-31, Santos, S.P.

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37. “Faíscas

‘noite de lua cheia
roubaram as couves
fugiram de Kombi

chove na roça
sapo tropeça
na poça

plantei beterraba
batata! Nasceu
mandioca braba

o galo canta
acordo tarde, Inês é morta
tudo fica na horta

a galinha do vizinho
bota ovo
no meu ninho

dormem ao sol
na rede Maria
no chão melancias

espantalhos na horta
pombinhas nos galhos
se fazem de mortas

piso no pasto
cheiro de jaca
e bosta de vaca

plantei quiabo
choveu na horta
foi tudo pro diabo

plantei uvas
batata!
foi festa pras saúvas

a vida é dura
enfio o pé
a jaca cai de madura

flores de ipês
no japão
longe cai de madura

flores de ipês
no japão
longe dos meus pés

na feira, faladeiras!
não fina essa trama?
corja de fiandeiras!

faceiro canta o galo
tolo, o alface
já está na feira

sapo cururu
na beira do rio
tem rã no cio

vagalume
na hora da janta
a fome espanta

mareado, um boing
caiu perto da roça
passarinho desgraçado

cabeça quente
de noite céu
de dia chapéu

tarde solar de verão
a cigarra canta solene
até morrer de exaustão

fruta madura
fez doce pro namorado
veio abelha de todo lado

a galinha canta
o ovo novo
o de ontem foi na janta

flor no pessegueiro
paixão à vida
por inteiro

a vaca prenhe muge
bicho com bicho
dentro urge

flor de abóbora na lapela
todo pateta
diante da clarabela

o dia nasce
no pasto
a neblina desce

na banca da feira
o viço do bananeiro
faz pecar a feira

pé de mexerica na beira
chove menino
sem eira

jardim encantado de cores
as pétalas
voam das flores

minhas roupas tortas
sou eu o espantalho
na horta

a cigarra plena ao cantar
busca a perfeição
de rachar, morrer

a água no fundo do poço
em nada sacia a sede
espelho de ossos

numa hora quer o mundo
noutra enfiar-se
no buraco mais fundo

olhos
são pássaros
que passam

o vento fala às folhas
as folhas
falham ao vento

na areinha
nada de costas
a tartaruga marinha

cedo bate o sol
a larva se vira
no casulo’

Ademir DemArchi –
‘Pirão de Sereia”, Realejo Livros – 2012, p. 160-167 – Santos, S.P.

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38. “O Livro dos Prazeres


‘... Mas assustou-se ao se ver.
   Eu existo, estou vendo, mas quem sou eu? E ela teve medo. Parecia-lhe que sentindo menos dor, perdera a vantagem dador como aviso e sintoma. Estivera incomparavelmente mais serena porém em grande perigo de vida: podeia estar a um passo da morte da alma, a um passo desta já ter morrido, e sem o benefício de seu próprio aviso prévio.'

Clarice Lispector –
‘O Livro dos Prazeres’, Media fashion – 2016, pág. 118 – São Paulo.


39. “Zilma dorme nos ventos


‘Sou igual ao riacho da fazenda. Minhas águas são corredeiras... nunca secam!'

Regina Alonso –
‘A Menina que Fazia Chover”, AllPrint – 2014, pág. 100 – São Paulo.

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40. “Sonho Sertanejo

‘Algum dia, ai quem me dera se eu pudesse
voltar pra roça e viver no meu ranchinho,
ver de novo aquelas flores coloridas
e ouvir feliz o cantar dos passarinhos

cheirar a terra molhada pela chuva
nadar no rio de águas claras, cristalinas
tomar banho na gostosa cachoeira
vislumbrar o verde lindo das colinas

e à tardinha, só ficar fazendo nada
meditar, sentada sob a goiabeira
na preguiça me sentir fazendo parte
dos encantos dessa vida tão brejeira.’


Deise Domingues Giannini –
‘Alma Aberta”, Costelas Felinas – 2009, p.78 – São Vicente, S.P.


41. “Primavera/Verão

‘No jardim da praia
folha nova tão fresquinha
atrai olhares’

Na mesa do sítio
folhas frescas de agrião
despertam apetite

Um olhar de espanto
três ninhos de João-de-barro
No alto do poste.

Venta na praia
Pais e filhos brincam juntos –
Pipas coloricas

Rancho abandonado
Janelas rangem ao vento –
Acácia em flor.

Sobre o galho
logo ao amnhecer
canta o bem-te-vi

Só por um instante
Pousa o sabiá-laranjeira –
Predadro por perto.

Pétalas dispersas
No início da Primavera –
Pausa para a alegria.

Tarde primaveril
O sol tinge de ouro
O céu de Santos.

De onde vem o pio?
Escondido na árvore
Canário-da-terra.

Passeio na mata –
Imóvel sobre as raízes
borboleta marrom

Jasmim solitário
No meio da folhagem densa
Atrai rolinha.

Início da manhã
Gotas prateiam a relva –
Orvalho estival.

Criança melada
Suja o paletó do avô –
Que sorvete bom!

Sabor de infância
no doce do dia a dia
Jaca aromática.

Nova receita –
Crianças olham curiosas
torta de berinjela.

Corpos suados
Em minúsculos biquínis –
Esplendor de verão.

Folha rendada
Encanta garoto na trilha –
Passeio de verão.

Guarda-sol verdinho
No meio das escarpas –
Samambaiaçu.

Velas paradas
pescador tira um cochilo –
Ah! Calmaria.

Ao sol poente
Raios refletidos n’água –
Dia de Ano Novo’


Clara Sznifer –
‘Pétalas Diversas”, Costelaa Felinas – 2011, p. 11-13, 16-19, 22, 26-28 e 31-33 – São Vicente, S.P.

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42. “Conjeituras, Sobretudo


‘À Deriva. Só e à deriva, como nau na calmaria.
Uma brisa sequer que lhe alente a navegada.’

‘Hora da Alma. É aquela hora em que o mundo se cala aos
Ouvidos humanos e a mata sussura à alma
Com sua voz silenciosa.
O vento pára e alguns homens sentem o seu
Silêncio, como o pressentem os pássaros e todos
Os outros seres sensíveis.’

‘Lar. Um espaço só meu, para ler, escrever e repousar.
Uma cama, como quando em criança, onde eu durma só como caminho.’

‘Plantio. Dependendo do plantio, não se consegue fugir à colheita.’

‘Ser Poeta. Perguntaram a mim se sou poeta por profissão.
- Ora! Ser poeta não é profissão, é um estado d’alma.’

Carlos Gama –
‘Conjeituras, Sobretudo”, AllPrint – 2011, p. 8, 81, 92, 119 e 137 – São Paulo.



43. “Décimo Sexto Movimento – ovodoguainumbi

‘...é um índio
caboclo
cafuzo
crioulo
caiçara
fazendo milagres com a
força da
música?'

Márcio Barreto –
‘Macunaimabladerrunner”, Imaginário Coletivo – 2015, p. 91 – Santos, S.P.

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44. “O Relâmpago

‘O trabalho humano! eis a explosão que de quando em quando aclara o meu abismo.’

Arthur Rimbaud –
‘Uma Estadia no Inferno”, Nova Fronteira -2015, p; 63 – Rio de janeiro.


45. “Pai Nosso (em Guarani)

‘Orê Ru, yvagape reimeva.
Tonhembojeroviákena nde rera,
Taoreanhuambá ne mborayhu,
Tajejapo ne rembipota ko yvy ári
Yvagapeguaicna.

Eme’emo oréve ko ára kóavape,
Orê rembiurã opa ára roikoteveva,
Eheja reikena orêve ore mba’ê vaikuê
Rohejá re’haichá orê rapichápe hembiapô
vaikuê.
Anikena orermoingétei
Rojepy’á ra’ã vai haguame,
Há ore peákena m’baê pochy pogýgui,
Taupéicha.'

‘Poetizando #33”, Artesania ed. Eunice Mendes e Walmor Dario Santos Colmenero – 2009, p.8 – Santos, S.P.

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46. “Espumas Flutuantes

‘...

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto –
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar,

...’

Castro Alves –
‘Espumas Fluctuantes”, Typ. De Camillo de Lellis Masson & C. – 1870, pág. 4 – Bahia.


47. “Quando, mais adiante, ruírem os castelos
E te faltar meu passo, no compasso da vida
Vede meu amor, tardei-me, já a partida
Mas deixei de mim os sonhos mais belos
Os lençóies, planando, te lembrarão meu asseio
As violetas, florindo violáceas, minha essência
Eis que as plantei ali, por amor e reverência
Para enfeitar, acetinar e alegrar, aqui, teu veraneio
Eu, deste lado, te rememorarei mais completa
Das vidas, tantas, já vividas ligados
Da fagulha de luz, que hoje vai largo clarão
Soprarei-te, mil versos, tal qual eu fosse poeta
Tais os que ficam, todo sempre, imemorados
Cravados, no fundo mais fundo da imensidão’

Luis Gustavo Gadini Schramn –
‘Ecos”, ed. Sônia Cavalheiro Prazeres e Luis Gustavo Gadini Schramn – 2013, Porto Alegre, RS.


48. “Meu Caro senhor Kappus


‘...Assim como as abelhas juntam o mel, reunimos o que há de mais doce em tudo e o construímos. É com o que há de menor, com o que há de insignificante (caso resulte do amor) que começamos, em seguida recorremos ao trabalho e ao descanso, a um silêncio ou a uma pequena alegria solitária, a tudo aquilo que fazemos sozinhos, sem participantes e colaboradores, assim damos início àquele que não presenciaremos, do mesmo modo que nossos antepassados não nos puderam presenciar. E no entanto eles, que se foram há muito tempo, se encontram em nós, como projeto, como carga pesando sobre o nosso destino, como sangue que corre em nós e como um gesto que desponta das profundezas do tempo. ...’

Rainer Maria Rilke –
‘Cartas a um jovem poeta”, L&PM Pocket – 2012, p. 61 – Porto Alegre, R.S.


49. “Barquinhos de folha de bambu


‘...

   - Os barcos não se movem – queixou-se ele.
   Era verdade, os barquinhos não se moviam. Só ficavam flutuando na água.
   - Então, vamos para o arroio atr´s da casa. Lá, os barquinhos andam bem.
   O menino levou os barquinhos. Akiko espalhou a água em volta das raízes da malva-rosa e levou o balde de volta à cozinha.
   Parados sobre uma grande pedra na orla do arroio, ela e o garotinho lançaram um barquinho cada um. O menino bateu palmas, contente.
   - O meu está ganhando. Olha! Olha!
   Correu acompanhando o barquinho vencedor para não o perder e vista.
   Akiko lançou o resto dos barquinhos de folhas de bambu na água, às pressas, e correu atrás da criança. ...’

Yasunari Kawabata –
‘Contos da palma da mão”, Estação Liberdade – 2008, p. 423-4 – São Paulo.


50. “A grande caçada


‘... Numa das gavetas, numa das sacolas da nave, para os momentos de grande nostalgia ou de fome de encantamento, livros a granel. Resmas de livros... Acredito nisto. Se não acreditasse mais me valia arrumar já as botas. Esses nosso descendentes deVerão ser gente sensível – à guisa de tal que, quando esteve lá em cima, ao contemplar o azul da Terra sentiu um nó na garganta e as lágrimas à beira do olhar. ...’

Nicolau Saião –
‘As Vozes Ausentes”, Escrituras Editora – 2011, p. 230 – São Paulo.


51. “Capítulo dos Chapéus


‘... - A escolha do chapéu não é uma ação indiferente, como você pode supor; é regida por um princípio metafísico. Não cuide que quem compra um chapéu exerce uma ação voluntária e livre; a verdade é que obedece a um determinismo obscuro. A ilusão da liberdade existe arraigada nos compradores, e é mantida pelos chapeleiros que, ao verem um freguês ensaiar trinta ou quarenta chapéus, e sair sem comprar nenhum, imaginam que ele está procurando livremente uma combinação elegante. O princípio metafísico é este: o chapéu é a integração do homem, um prolongamento da cabeça, um complemento decretado ab eterno; ninguém o pode trocar sem mutilação. É uma questão profunda que ainda não ocorreu a ninguém. Os sábios têm estudado tudo desde o astro até o verme, ou, para exemplificar bibliograficamente, desde Laplace... Você nunca leu Laplace? Desde Laplace e a Mecânica celeste até Darwin e o seu curioso livro das Minhocas, e, entretanto, não se lembraram ainda de parar diante do chapéu e estudá-lo por todos os lados. Ninguém advertiu que há uma metafísica do chapéu. Talvez eu escreva uma memória a este respeito. São nove horas e três quartos; não tenho tempo de dizer mais nada; mas você reflita consigo, e verá... Quem sabe?Pode ser até que nem mesmo o chapéu seja complemento do homem, mas o homem do chapéu...’

Machado de Assis –
‘Missa do Galo”, L&PM Pocket - 2012, p. 52 – Porto Alegre, RS.


52. “III A obra-prima de Gilliatt ajuda a obra-prima de Lethierry


   ‘... O olho do homem é feito de modo que se lhe vê por ele a virtude. A nossa pupila diz que quantidade de homens há dentro de nós. Afirmamo-nos pela luz que fica debaixo da sobrancelha. As pequenas consciências piscam o olho, as grandes lançam raios. Se não há nada que brilhe debaixo da pálpebra, é que nada há que pense no cérebro, é que nada há que ame Np coração. Quem ama quer, e aquele que quer relampeja e cintila. A resolução enche os olhos de fogo; admirável fogo que se compõe da combustão de pensamentos tímidos.
   Os teimosos são sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o obstinado na verdade tem a grandeza. Quase todo o segredo dos grandes corações está na palavra: perseverando. A perseverança está para a coragem como a roda para a alavanca; é a renovação perpétua do ponto de apoio. Esteja na terra ou no céu o alvo da vontade, a questão é ir a esse alvo; no primeiro caso, é Colombo, no segundo caso, é Jesus. Insensata é a cruz; vem daí a sua glória. Não deixar discutir a consciência, nem desarmar a vontade, é assim que se obtêm o sofrimento e o triunfo. Na ordem dos fatos morais o cair não exclui o pairar. Da queda sai a ascensão. Os medíocres deixam-se perder pelo obstáculo precioso, não assim os fortes. Parecer é o talvez dos fortes, conquistar é a certeza deles. [...] O desdém das objeções razoáveis cria a sublime vitória vencida se chama o martírio. ...’

Victor Hugo –
‘Os Trabalhadores do Mar”, Cosac Naify – 2013, p. 461-2 – São Paulo.


53. “A outro editor inglês


   '... Quanto às influências recebidas do movimento que compreende o cubismo e o futurismo, devem-se mais às sugestões do que à substância das suas obras propriamente ditas.
   Intelectualizámos os seus processos. A decomposição do modelo que realizam (porque nós fomos influenciados, não pela sua literatura, se é que tem algo que se pareça com literatura, mas pelos seus quadros), situámo-la nós naquilo que cremos ser a esfera própria dessa decomposição – não nas coisas, mas nas nossas sensações das coisas.
   Tendo moistrado quais as nossas origens, e, um tanto apressadamente, o nosso uso e diferenças relativas a essas origens, exporei agora o mais clara e aprofundadamente possível, e em poucas palavras, em que consiste a atitude central do Sensacionismo.
1. A única realidade na vida é a sensação. A única realidade em arte é a consciência da sensação.
2. Não há filosofia, nem ética ou mesmo estética na arte, seja o que for delas que exista na vida. Em arte, há apenas sensações e a nossa consciência delas. Seja o que for de amor, alegria, sofrimento, que exista na vida, em arte são apenas sensações. Em si mesmos, são errelevante para a arte. Deux é uma sensação nossa (porque uma ideia é uma sensação) e na arte é usado apenas enquanto expressão de certas sensações – tais como reverência, mistério, etc. Nenhum artista pode crer ou deixar de crer em Deus, tal como nenhum artista pode sentir ou não-sentir amor, alegria ou sofrimento. No momento em que escreve, crê ou descrê, de acordo com o pensamento que melhor lhe permite obter consciência e dar expressão à sua sensação naquele momento. Passada essa sensação, as coisas tornam-se para ele, como artista, não mais do que corpos que as almas das sensações assumem para se tornarem visíveis àquela visão interior que lhe permite escrever as suas sensações.
3. A arte, na sua plena definição, é a expressão harmônica da nossa consciência das sensações: isto é, as nossas sensações devem ser de talmodo expressas que criem um objecto que seja para os outros uma sensação. A arte não é, Omo disse Bacon, “o homem acrescentado à Natureza”; é a sensação multiplicada pela consciência – multiplicada, note-se bem.
4. Os três princípios da arte são 1) cada sensação deve ser plenamente expressa, isto é, a consciência de cada sensação deve ser investigada até ao fundo; 2) a sensação deve ser expressa de tal modo que tenha a possibilidade de evocar – como um halo em torno de uma manifestação central definida – o maior número possível de outras sensações; 3) o todo assim produzido deve ter a maior semelhança possível com um ser organizado, porque essa é a condição da vitalidade. Chamo a estes três princípios 1) o as Sensação, 2) o da Sugestão, 3) o da Construção. Este último, o grande princípio dos gregos – cujo grande filósofo considerava o poema como “um animal” – [...]'

Fernando Pessoa –
'Correspondência 1905-1922", Companhia Das Letras -1999, p. 241-2 – São Paulo.


54.


"Canoa ancorada –
No embalo da maré
O voo da garça’

Regina Alonso –
‘7ª. Antologia 2004 – 2005 – 2006”, Grêmio de Haicai Caminho das Águas, p. 33 – Santos, S.P.

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55.


"Ao subir a serra
Desaparecem as flores –
Forte nevoeiro.’


Marly Barduco Palma –
‘Flores, Cores e Amores”, Ed. Costelas Felinas, p.38 – 2011, São Vicente, S.P.

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56. “Estrela

‘Estrela,
No firmamento cintilante,
Exerce no destino:
Sorte?
Amor?
Seja lá o que for.
Estrela.
Sempre estrela.
Fulgor,
Dos enamorados,
Dos amantes.’

Rossidê Rodrigues Machado –
‘Oásis de expressão”, Fábrica de Livros – 2011, p. 104 – São Paulo.

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57. “Lembranças

‘Entro no mar...
Meus “pensar-ventos”
Mexem... remexem
Os nossos encontros.

Sinto
No tocar das ondas
A carícia de suas mãos
Na pele... nos pelos...

Viajo no tempo e revejo
Nossas noites
Repletas de amor.'

Mahelen Madureira –
‘Rabiscos de Amor”, Costelas Felinas – 2013, p. 15 – São Vicente, S.P.

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58.


"Portão de escolinha –
Rei Momo chega chorando
no colo da mãe.’

Teruko Oda –
‘Babel Poética”, nº 1 – novembro/dezembro de 2010, p. 12, org. Ademir DeMarchi – Santos, S.P.



59. “A Grade

‘A grade não me agrada
Agrade ou não estou preso
Estou preso, não sou preso
O Sol lá fora e eu solo
Aqui dentro de fora é frio

Aqui sou um animal
Sem terra não posso vegetar

A grade só me agrada aberta
A grade é minha porta
A grade é minha janela
A grade é meu horizonte
A grade é meu sol
A grade é minha lua

É minha válvula de escape
A grade é como um sonho ruim
Do meu pensamento saio por aí...

O concreto é duro
A grade é sinistra e traiçoeira
A grade é aos outros não a mim
A grade àqueles não a nós.’

Valquimar Reis Fernandes –
‘Babel Poética” - nº 1 – novembro/dezembro de 2010, p. 64, org. Ademir DeMarchi – Santos, S.P.


60. 
"Âncora no mar –
sobre as mãos do lancheiro
o brilho da lua.’

Regina Alonso –
‘Vento Noroeste”, AllPrint Editora – 2011, p. 41 –São Paulo.

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61. Argentias.


Lançadas pela mão
em cascata se dão.

O olhar infantil -
pratear nossa luz.

Iporanga é a praia,
artimanha noturna.

O sentir pranteado
quase lacrimejado.

Sem saber o que eram
vislumbradas quimeras.

Argentias ao luar
desde a água do mar.

Ricardo Rutigliano Roque –
http://libertodesi.blogspot.com.br/2016/05/argentia.html

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62. “O Índio.’


‘Frente à janela vejo apenas uma criança suja. O barulho do mar afasta-me da visão. Sou uma mentirosa. Jamais serei a mulher dos sonhos de alguém. Gosto de ficar olhando os ladrilhos floridos da minha cozinha, enquanto penso se como ou não a manga pousada sobre a mesa. Alimento-me pelo olhar. Pego um pouco de café e resolvo fazer o molho para o macarrão, já pronto e escorrido. Pego a erva e a lavo. O cheiro exalado dá-me imenso prazer. Coentro tem alma. Imediatamente me vem à mente meu objeto real de prazer – de desejo. Gostaria de poder prendê-lo como ímã na minha geladeira. Ele é presumível. Chega sempre no horário combinado. Abro a porta e o pego com a mão prestes a tocar a campainha. Lábios ressecados e feridos, cabelos duros de sal e vento, dorso nu, mãos grossas e calejadas de baixar e levantar as velas do barco. Ao chegar sempre dizia “terra à vista” e me pegava pela cintura e rodava e beijava. Olho pela janela e a criança sumiu, o barco ancorado balouçando amarrado à pequena coluna. Comemos e nos amamos. Amamos. O dia havia amanhecido – mais uma permissão de Deus aos seres. O sol crescera e me dei conta que os pelos ásperos da barba do homem arranharam meu rosto e meus lábios ardiam e meu corpo inteiro latejava. Abracei-o. Ele crispou-se como um galo. Excitei-me, levantei e sai correndo. Atirei-me n'água e nadei freneticamente. Há seis meses luto contra meu corpo e meus pensamentos. A dama das armadilhas e dos caprichos ficara longe. Uma nova terra prometia novidades. Atravessei a quebração e as ondas que hoje estão mansas. Cansei. Nadei de volta. Uma onda esvaiu-se e fiquei em pé com o resto das forças que minha fome permitia. Ansiava por voltar à cama e sentir o cheiro do homem. Ele dormia. Voltei à praia. Vim de outras terras. Acho até que de outro mundo. De um mundo aberto a todas as possibilidades. Meu pai foi um guerreiro, fanfarrão. Torcia o bigode quando era contrariado. Nunca esquecerei o elmo e a espada que enfeitavam a parede da sala. Aprendi com ele a ferir somente guerreiros e a socorrer almas fracas. Se bem que choro como um bebezão quando firo um guerreiro. Após ferir um deles tomei tanto rum, que vários neurônios foram destruídos para sempre. Jamais vi um filho crescer. Agora não sou mais tão jovem como naquela época que guerreava. O estômago roncou. Percebi que havia desmaiado e minha cara ardida ficou cheia de areia. O sol cada vez mais quente. Levanto o rosto do chão e limpo a areia da cara. O sol agora está insuportavelmente quente. Minhas costas queimam. Súbito, pés diante de mim. Movo o pescoço e olho para cima. Ele está nu. Observa-me um tempo até que estende a mão para me ajudar a levantar. Não estava excitado. Pareceu-me tão inofensivo que aceitei a ajuda. Falou algo que não entendi e apontou para o mar. Avistei o barco dançando nas marolas. Virou-me as costas e começou a caminhar. Foi ao barco e o pegou. Saiu dele com um grande peixe pendurado ao seu ombro. Um dourado. Não fui para casa. Entramos na mata por uma picada e achamos logo uma clareira onde haviam casebres, alinhados em semicírculo. Tetos de palha e paredes de barro. As mulheres estavam ocupadas com as crianças. Percebi uma menina de não mais que quinze anos com um bebê sugando-lhe o seio e mais duas crianças pequeninas grudadas às suas costas, agachada e com o braço livre mexia a lenha da fogueira. Sorrio ao ver o velho. Mais tarde fiquei sabendo que Mayara era sua esposa mais nova. O índio tinha dezessete filhos e três mulheres. Vários netos e dezenas de sobrinhos e sobrinhas e nada poético existia naquele lugar. Ali deixamos o peixe."

Maria José Goldschmidt –
https://acervodosescritoressantistas.blogspot.com/b/post

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63. Teu Porto, Meu Parto.


Retornas líquida,
carícia à ponta -
mucosa quente,
dente aporta.

Fechados olhos -
sentir-te inspira,
querer eterno -
expiras posse.

Vai-vem - água,
presente agora,
perfume à boca,
recebes beijo.

Luz resoluta -
calor o teu.
Brinco enroscado -
meu sentir frio.

Nasço de ti -
canal estreito,
meu mar deixado,
oceano à frente.

Respiro-te,
cama no parto -
chego ao mundo,
meu universo.


Ricardo Rutigliano Roque –

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64. Menino Selvagem.


Na praia sonhar -
braçadas ao mar,
peitar temerário
remar nesse horário.

Chegar é mistério,
sair do império -
infância inquieta,
o isopor aquieta.

Braço pequenino,
sozinho - imanente,
tamanho somente
percebe menino.

À noite ele volta,
se antes se solta,
à margem primeira,
paixão traiçoeira.

Ricardo Rutigliano Roque –
http://libertodesi.blogspot.com.br/2016/05/menino-selvagem.html

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65. “[...] Preciso sentir de novo o it dos animais. Há muito tempo não entro em contato com a vida primitiva animálica. Estou precisando estudar bichos. Quero captar o it para poder pintar não uma águia e um cavalo, mas um cavalo com asas de abertas de grande águia.
   Arrepio-me toda ao entrar em contato físico com bichos ou com a simples visão deles. Os bichos não fantasticam, Eles são o tempo que não se conta. Pareço ter certo horror daquela criatura viva que não é humana e que tem meus próprios instintos embora livres e indomáveis. Animal nunca substitui uma coisa por outra.
   Os animais não riem. Embora às vezes o cão ria. Além da boca arfante o sorriro se transmite por olhos tornados brilhantes e mais sensuais, enquanto o rabo abana em alegre perspectiva. Mas o gato não ri nunca. Um ele que conheço não quer mais saber de gatos. Fartou-se para sempre porque tinha certa gata que ficava em danação periódica. Eram tão imperativos os seus instintos que na época do cio, após longos e plangentes miados, jogava-se de cima do telhado e feria-se no chão.
   Às vezes eletrizo-me ao ver bicho. Estou agora ouvindo o grito ancestral dentro de mim: parece que não sei que é mais criatura, se eu ou o bicho. E confundo-me toda. Fico ao que parece com medo de encarar instintos abafados que diante do bicho sou obrigada a assumir.
   Conheci um ela que humanizava bicho conversando com ele e emprestando-lhe as próprias características. Não humanizo bicho porque é ofensa – há de respeitar-lhe a natureza -, eu é que me animalizo. Não é difícil e vem simplesmente. É só não lutar contra e é só entregar-se.
   Nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante. Esta dificuldadee é dor humana. É nossa. Eu me entrego em palavras e me entrego quando pinto. [...].’

Clarice Lispector –
‘Água Viva”, Editora Hamburg Ltda. – 1976, 2ª edição, pág. 56-7, São Paulo.