sábado, 26 de março de 2016

Conto Entre Nuvens Um Passarinho Assustado.

   Em frente à praia, ao lado da reserva Juréia-Itatins, de costas pra Mata Atlântica, um filho mostra a seu pai, o que vê no céu. 
   - Ó, pai! 
   - Sim, é uma nuvem! 
   - Vê, ali! - É, mudou de lugar! 
   - Bonita é, também, aquela! 
   - É a branquinha! 
   - Parece que flutua! 
   - Quer uma igual? Vou comprar um algodão doce. 
   - Nhac... Hummm! 
   - É bom, né? 
   - Aquela é pretinha! 
   - É, ela tem água. Vou comprar água. 
   - Glub, glub... Hummmm! 
   - Matou a sede, né? É a goiabada, com queijo 
   - Romeu e Julieta, que dá sede, nessa nossa festa de Cosme e Damião. 
   - O Saci-pererê também consegue pai, se abaixar como eu, pra beber água, no rio? 
   - Já teria se abaixado, pra pegar doce, mas aqui ele recebe na mão, em festa de Cosme e Damião. Há uma festa, a de Halloween, onde seriam, caso não recebesse, permitidas as traquinagens! 
   - Pai. Posso ir à casa do Saci, lá na mata, que é pra pedir água e doce? 
   - Vai lá, filho, e suba a escada, de fora da casa, pra escolher a nuvem certa, pra desta beber, mas não deixe rastro, nesse caminho de areia. 
   - Subirei nessa árvore. Na água empoçada se vê o contorno, sombreado de algo, que paira no céu. 
   - Olá preta nuvem. Você tem água pra matar minha sede? 
   Fuligem - Sou nuvem, oriunda da queima das folhas da cana de açúcar. 
   Preta Nuvem - Eu tenho água, sim, antes de vir de lá, da plantação, eu ainda nesse céu azul, seco e quente. 
   - Qual a velocidade, que vocês atingem? 
   - Aquela, do vento que me traz. 
   - Como você é recebida, ao ser, percebida, fuligem? 
   - Como a um moleque, travesso, por repetidas vezes. Ela também, a preta nuvem, mas, eu apareço em duas safras por ano. 
   - Já eu chego mais no final do verão e, por isso, molho a roupa no varal, mas, mesmo assim sou tratada como filha predileta! 
   Céu azul - Sou testemunha disso, ao iluminar seus caminhos, nuvens escuras. 
   - E você - nuvem branquinha, sempre vem aqui? 
   Nuvem branquinha - Na ausência da preta nuvem, sim. 
   - Nosso contraste é poesia, minha branquinha, em dias carregados de chuva. 
   - Qual o ganho, preta nuvem, com minha prestigiosa presença, em sua orquestrada tempestade? 
   - Poderá ver quanto os pássaros fogem, de minha chuva, coisa que você não faz – dar susto em passarinho. 
   - Em solitária presença, essa minha, de fumaça contra a Dengue e, tantos são os pássaros que alçam voo, debaixo de sua chuva! 
   - Eu queria aprender a voar com sua leveza, branca nuvem, ao descarregar toda minha água, pra poder praticar um voo de passarinho. 
   - Os passarinhos estão com fome, com a fumaça que acaba com o mosquito da Dengue - seu alimento. 
   - Mas, essa fumacinha branca é, contra mosquito, leve como você, porém voa, livre, como pássaro? 
   Fumaça contra o Aedes - Inabilitado pássaro, de penas desengorduradas por mim, que faz reter, assim, a água da chuva caída da nuvem pretinha, e essa pesa, o que lhe tira o voar. 
   - Então é você fumaça que, ao penetrar nas asas do passarinho, oferece este aos gatos, em meio a água da pretinha? 
   Fumaça contra Aedes e nuvem branquinha - Somos nuvens branquinhas, mas, com conteúdos e qualidades diferentes. 

diversão passageira – 
Pé d’água apaga 
pegadas na areia 

Ao Paulo Rodrigues e Sonia Adarias - passarinhos, entre nuvens do "Grêmio de Haicai Caminho das Águas', e Galati, entre nuvens da 'Sociedade dos Poetas Vivos". 


#‎acervodosescritoressantistas‬

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