quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Desnudado Mar Selvagem – musical.

Sinopse:
O concepto caiçara é gestado em útero da Cultura Guarani, Africana e Europeia, com nascitura presença - gestada e celeste, vivida e aqui testemunhada em dizer lírico – prosaico, musicado e em fluxo de pensamento, seja no mar, na praia, na mata ou ao enxergar o céu, passando à terrana escaramuça, em costa de mar caiçara, em 1584, em defesa contra o corsário Edward Fenton, passando por 1937 em pescaria no dizer de Martins Fontes, até os dias atuais.
ÍNDICE – dos dizeres:
Primeiro ato – Concepto: Pescador – em dizer musicado (1). Pescador – em fluxo de pensamento (2). Mulher – em fluxo de pensamento (3). Pescador – em fluxo de pensamento (4). Mulher – em fluxo de pensamento (5). Pescador – em fluxo de pensamento (6). Mulher – em fluxo de pensamento (7). Pescador – em fluxo de pensamento (8). Mulher – em fluxo de pensamento (9). Pescador – em fluxo de pensamento (10). Mulher - em dizer musicado (11). Negro, em dizer musicado (12).
Ato contínuo - Nascituro: Pescador Caiçara – em fluxo de pensamento (13). Criança caiçara – diz ao pescador caiçara (14). Pescador – diz a seu filho (15). Criança – diz ao pescador (16). Pescador – diz a seu filho (17). Criança – diz ao pescador (18). Pescador – diz a seu filho (19). Criança – diz ao pescador (20). Pescador - diz a seu filho (21). Criança – diz ao pescador (22). Pescador - diz a seu filho (23). Criança – diz ao pescador (24). Pescador - diz a seu filho (25. Criança – diz ao pescador (26). Pescador - diz a seu filho (27). Criança – diz ao pescador (28). Pescador - diz a seu filho (29). Criança – diz ao pescador (30). Pescador - diz a seu filho (31). Criança – diz ao pescador (32). Criança – diz à fuligem da queima da cana de açúcar (33). Fuligem – diz à criança (34). Preta nuvem – diz à criança (35). Criança – diz à preta nuvem e à fuligem (36). Preta nuvem - diz à criança (37). Criança – diz à fuligem (38). Fuligem – diz à criança (39). Preta nuvem – diz à criança (40). Céu azul – diz à preta nuvem e fuligem (41). Criança – diz à nuvem branquinha (42). Nuvem branquinha – diz à criança (43). Preta nuvem – diz à nuvem branquinha (44). Nuvem branquinha – diz à preta nuvem (45). Preta nuvem – diz à fuligem e à fumaça (46). Fumaça – diz à preta nuvem (47). Preta nuvem – diz à nuvem branquinha (48). Nuvem branquinha – diz à fumaça (49). Criança – diz à nuvem branquinha (50). Fumaça e Fuligem –dizem à criança (51). Criança – diz à fumaça (52). Fuligem, preta nuvem e fumaça – dizem à criança (53). Passarinho – em fluxo de pensamento (54).Negro caiçara – diz ao pescador (55). Pescador - em fluxo de pensamento (56).
Segundo ato – Terrano: Fenton -almirante corsário inglês- diz a seus marinheiros (57). Capitão espanhol -em navio saqueado- diz a seus marinheiros (58). Ward -vice-almirante corsário inglês- diz aos capitães de sua esquadra (59). Fenton – diz a Ward (60). Withal -inglês local- diz em terra ao sogro Adorno (61). Withal -a bordo- diz a Fenton (62). Withal -em terra- diz aos locais (63). Anônimo local – diz aos locais (64). Emissário de Leitão -capitão mor e governador da província- diz aos locais (65). Ward - diz a Fenton (66). Fenton – diz a Ward (67). Ward - diz a Fenton (68). Fenton – diz a Ward (69). Fenton – diz a Withal e Adorno (70). Fenton – diz a Ward (71). Adorno – ancião local, sogro de Withal e de posses, diz a todos locais, segundo SANTOS, F.M. – “História de Santos”; 1º volume, pág. 137-8, 2ª ed.1986; Ed. Caudex São Vicente - S.P. (72). Fenton – diz a Ward (73). Withal - diz aos locais (74). Capitão Espanhol -no navio da esquadra espanhola avariado na escaramuça- diz ao Almirante Valdez (75). Valdez -almirante da esquadra espanhola- diz a Higino (76). Higino -vice almirante da esquadra espanhola- diz a Valdez (77). Vigia local -do morro do vigia- em fluxo de pensamento, em "24 de janeiro de 1584...", segundo SANTOS, F.M. – “História de Santos”; 1º volume, pág. 137-8, 2ª ed.1986; Ed. Caudex São Vicente - S.P. (78). Emissário local -do vigia- diz ao este (79). Higino -capitão e navio espanhol- diz a Fenton (80). Adorno – diz aos combatentes e aos locais (81). Adorno –ancião local– diz aos locais (82).
Ato contínuo – Celeste:
Mulher caiçara - em fluxo de pensamento (83). Mulher – diz à Fortaleza da Barra Grande (84). Pescador caiçara - diz à Fortaleza (85). Guarani - diz à Fortaleza (86). Pirata - diz à Fortaleza (87). Negro – diz à mulher, pescador, fortaleza e à criança (88). Criança - diz à Fortaleza (89). Pirata – em fluxo de pensamento (90). Mulher – em fluxo de pensamento (91). Pescador – em fluxo de pensamento (92). Negro – em fluxo de pensamento (93). Criança – em fluxo de pensamento (94). Guarani – diz à criança (95). Vigia - em dizer cantado (96). Pescador – em fluxo de pensamento (97). Criança – em fluxo de pensamento (98). Guarani - em fluxo de pensamento (99). Mulher - em fluxo de pensamento (100). Negro - em fluxo de pensamento (101). Guarani - em dizer cantado (102). Pescador – diz à plateia (103). Pescador – diz à plateia (104).
Ato contínuo - Adeus: Criança com todos os atores – em dizer cantado, à plateia (105).
Primeiro ato – Concepto:
1. - Torço por sua existência, ativa amorização, encontro-a natureza. Evocada noite escura. Paladar que amo, transcende o querer, audição do sonho. Que amanheça clara. Enxergo-a água – fruído sentir, presente-ausente. Longe de entardecida. Aromatizada, traduzida em verbo – sentimento vai. Guardada no infinito. Além do relicário – está pulsante lá, pisando a areia. Torço por sua existência, Guardada no infinito. (Pescador – em dizer musicado:https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/presente-ausente-1 ) .
2. Beijo sua boca carmim sobre marfim os lábios que molhados me seduzem vizinhos à sua pele jambo (Pescador – em fluxo de pensamento).
3. De amolecida têmpera marrom e o vermelho seu charme de ferrugem no ferro corroído (Mulher – em fluxo de pensamento).
4. Sobre sua cabeça seco no forte sol o Sapé refresca (Pescador – em fluxo de pensamento).
5. Mancha no azul do céu um galho com Algodão rabisca de branco (Mulher– em fluxo de pensamento).
6. Sua delicadeza surge nesse contexto em penhasco com ar de passarinho e mergulhão olhando a praia de menino em canoa de pescador sobre mar de cardume onde a pura ação movimenta, com o sentir amoroso nessa lúdica presença que mais se aproxima da existência em ato de busca brincadeiras na mata e poesia pelas ruas interiorizam nesse movimento seu frescor sob brancos lençóis com dobras de marolas trazidas do caminho das águas mulher caiçara banha sua filha com mãos calejadas pelo tecer da rede de pesca em descanso de seu caminhar continente para conquista de sabor na sua permanência insular com troca de aromas no mar de diálogo vai em correnteza oceânica do viver com bucólica remada de aproximação ao horizonte incerto (Pescador – em fluxo de pensamento).
7. Gerada presentificação própria da europeia com pitadas de sonoridade africana e de plasticidade guarani com sua história fragilizada no medo imposto por incorretos mas com adquirida fortaleza disfarçada em aparência amedrontada dos corretos e longe de vitimizada sob a ética do benefício herdado da ascendência a minha cultura de mulher caiçara evoca em linhas guardadas próximas à sombra de paciente espera o seu mistério com quantidade de nós que permeiam a menina que escuta e cortiças que flutuem junto ao menino que lhe fale eu como personagem me sinto protagonista nessa tessitura mais coadjuvante em ondas do que como narradora em vagalhão da saudade tão desdobrados mas companheiros em degustação de maresia em rebeldia está na evocação do limite de mar circunscrito esse avizinhamento mas que em maré vazante vai até se distanciar em conquista de água oceânica coberta em brumas em vazantes e enchentes este fluxo está ao adentrar o canal do estuário longe de manobras exóticas como em suas veias para percepção do que há ao passar pelo deck dos sentidos até umedecer a aridez da areia em próxima praia a partir dali palmilhada (Mulher – em fluxo de pensamento).
8. Há ambiente em roteiro desde a nascente do Tejo que a remete à Europa e à África até a Fonte de Itororó depois de percorrido o rio chamado Atlântico como sua artéria e já aqui refrescado como em suas narinas pelo vento até a Serra do Mar emoldurada por nuvens pensamentos que evocam vulcões de Araucania intuições e lava expelida pelo Vesúvio lembranças essa geografia emocional é de inquietude denotada em fenomenologia de atos e de passivas percepções (Pescador – em fluxo de pensamento).
9. Vivificada memória em suas cartas chacoalhadas no abrir de sua bolsa sobre contexto disfuncional com poeira de grande viagem desde a distante Europa onde os detratores permanecem sob silenciado mosaico de intransigência à anárquica presença sua e da África de mais antiga influência à submissão chegando à sedutora Mata Atlântica agora passa em intimista distância suas vistas por morros na Ilha de São Vicente desde um tormentoso morro até outro sonhado mirante do cais do Porto e praias onde os caiçaras formam quebra-cabeça em estabelecidos epicentros que seus ombros sustentam (Mulher – em fluxo de pensamento).
10. Percepção do menino em pluvial água e da menina em salobra mistura ambos acalentados como pequenos peixes guarú estes que saem mesmo protegidos como de sua boca as palavras no abrir de barbatana em toques mútuos assim em nossos mais recônditos nichos como uma só isca viva enlevados por anzol cognitivo você mulher convive com predadores que passam por sua mão em aleatória escolha vazante na busca de partilha maior em trajeto sem sombras de pedras como se não houvessem ossos mas, das mais fortes ondas profundas correntezas e remansos cujas superfícies refletem como sua esperança o céu (Pescador – em fluxo de pensamento).
11. - Você traduz partido alto qual areia induz andar sem salto. Venha de longe chega mais perto sua voz é meu dado certo. Canal leva meu pensamento pra maré balançar o firmamento. A vida lá fora ao som transcendo letra atrás desse momento. (Mulher - em dizer musicado -https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/sua-musica )
12. - Canta compartilha hoje hino até antecipa, resgata rua luz, louva, emana, emoldura anterior à ulterior unidade, xamã xavante - brincante Charleaux árvore verde - sombreado chão uma folha amarelada na infância a brincadeira acontece: ninguém se amola, o brinquedo é sorridente e o brincante se apetece na adolescência o brincante extrapola, fica e namora:
é mambembe como uma bola o adulto necessita de segredo: é cúmplice a olhos vistos, em olhares que o engrandeça e evitem seu degredo Cativa colheita - hombridade hermosa, ainda acolhedora, retidão reina lida livre, embaixador emudece, àquele adianta um ultimato - xô xadrez. (Negro, em dizer musicado -https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/brincante-charleaux )
Ato contínuo - Nascituro:
13. Em frente à praia ao lado da reserva Juréia-Itatins de costas pra Mata Atlântica você meu filho mostre a mim seu pai o que vê no céu (Pescador Caiçara – em fluxo de pensamento).
14. – Ó, pai! (Criança caiçara – diz ao pescador caiçara)
15. - Sim, é uma nuvem! (Pescador – diz a seu filho)
16. - Vê, ali! (Criança – diz ao pescador)
17. - É, mudou de lugar! (Pescador – diz a seu filho)
18. - Bonita é, também, aquela! (Criança – diz ao pescador)
19. - É a branquinha! (Pescador – diz a seu filho)
20. - Parece que flutua! (Criança – diz ao pescador)
21. - Quer uma igual? Come esse doce. (Pescador - diz a seu filho)
22. - Nhac... Hummm! (Criança – diz ao pescador)
23. - É bom, né? (Pescador - diz a seu filho)
24. - Aquela é pretinha! (Criança – diz ao pescador)
25. - É, ela tem água. Toma essa água. (Pescador - diz a seu filho)
26. - Glub, glub... Hummmm! (Criança – diz ao pescador)
27. - Matou a sede, né? É a goiabada, com queijo. Romeu e Julieta, que dá sede, nessa nossa festa de Cosme e Damião. (Pescador - diz a seu filho)
28. - Você também consegue pai, se abaixar como eu, pra beber água, no rio? (Criança – diz ao pescador)
29. - Já teria me abaixado, pra pegar doce, mas aqui você recebe na mão, em festa de Cosme e Damião. (Pescador - diz a seu filho)
30. - Pai. Posso ir à casa de mãe, lá na mata, que é pra pedir água e doce? (Criança – diz ao pescador)
31. - Vai lá, filho, e suba a escada, e fora da casa, pra escolher a nuvem certa, pra desta beber, mas não faça amizade com quem deixe rastro, nesse caminho de areia. (Pescador - diz a seu filho)
32. - Subirei nessa árvore. Na água empoçada se vê o contorno, sombreado de algo, que paira no céu. (Criança – diz ao pescador)
33. - Olá preta nuvem. Você tem água pra matar minha sede? (Criança – diz à fuligem da queima de cana de açúcar)
34. - Sou nuvem preta, mas oriunda da queima das folhas da cana de açúcar. (Fuligem – diz à criança)
35. - Eu sim, sou preta nuvem, tenho água, antes de ir lá - à plantação, naquele céu azul, seco e quente. (Preta nuvem – diz à criança)
36. - Qual a velocidade, que vocês atingem? (Criança – diz à preta nuvem e à fuligem)
37. - Aquela, do vento que me traz. (Preta nuvem - diz à criança)
38. - Como você é recebida, ao ser, percebida, fuligem? (Criança – diz à fuligem)
39. - Como a um moleque, travesso, por repetidas vezes. Ela também, a preta nuvem, mas, eu apareço em duas safras por ano. (Fuligem – diz à criança)
40. - Já eu chego mais no final do verão e, por isso, molho a roupa no varal, mas, mesmo assim sou tratada como filha predileta! (Preta nuvem – diz à criança)
41. - Sou testemunha disso, ao iluminar seus caminhos, preta nuvem e fuligem. (Céu azul – diz à preta nuvem e à fuligem)
42. - E você - nuvem branquinha, sempre vem aqui? (Criança – diz à nuvem branquinha)
43. - Na ausência da preta nuvem, sim. (Nuvem branquinha – diz à criança)
44. - Nosso contraste é poesia, minha branquinha, em dias carregados de chuva. (Preta nuvem – diz à nuvem branquinha)
45. - Qual o ganho, preta nuvem, com minha prestigiosa presença, em sua orquestrada tempestade? (Nuvem branquinha – diz à preta nuvem)
46. - Poderá ver quanto os pássaros fogem, de minha chuva, coisa que você não gera – susto em passarinho. (Preta nuvem – diz à fuligem e à fumaça)
47. - Em solitária presença, essa minha, de fumaça de espantar o mosquito e, tantos são os pássaros que alçam voo, debaixo de sua chuva! (Fumaça – diz à preta nuvem)
48. - Eu queria aprender a voar com sua leveza, branca nuvem, ao descarregar toda minha água, pra poder praticar um voo de passarinho. (Preta nuvem – diz à nuvem branquinha)
49. - Os passarinhos estão com fome, com o calor de sua fumaça pra espantar o mosquito - seu alimento. (Nuvem branquinha – diz à fumaça)
50. - Mas, essa fumaça preta contra mosquito, é leve como você – nuvem branquinha? Voa, livre, como pássaro? (Criança – diz à nuvem branquinha)
51. - Inabilitado pássaro de penas desengorduradas pelo calor que faz reter assim a água da chuva caída da nuvem pretinha e essa pesa, o que lhe tira o voar (Fumaça e Fuligem – dizem à criança)
52. - Então são vocês, fumaça e fuligem, que desengorduram as asas do passarinho, ao esquentar o clima, e o oferece aos gatos, em meio a água da pretinha? (Criança – diz à fumaça)
53. - Somos nuvens pretinhas, mas, com conteúdos e qualidades diferentes. (Fuligem, preta nuvem e fumaça– dizem à criança)
54. Diversão passageira pé d’água apaga pegadas na areia (Passarinho – em fluxo de pensamento).
55. - Oitenta Horas Semanais! Omitir-se instituirá trabalho escravo - nação títere, acorda! Honra ontológica - resistência, até sangrar! Sua existência merece atenção! Não se acorrente! Insurja-se! Sociabilize-se! Isca Viva. A linhada se enrosca nas pedras à beira mar. O peixe não sairá de seu azul acolhedor. O anzol será cognitivo - a isca ao sol se esquenta, seu cheiro seiva a vida. A água flui pra lá, oscila no horizonte, lá – onde o ar mergulha, lá – onde o mar espia, lá – onde o peixe só nada, lá – onde há pedras profundas, em seu profundo estar. (Negro caiçara – diz ao pescador)
56. O dia me é boa manhã ensolarada na praia com pequeno ao chão tão pequeno fui memória praia acompanha no baixar de cabeça pequeno foco concretude norte abstraída intrépido poema num querido convívio como me atrai contraste semente praia útero onde pequenos criam sinto a força com pequeno aos braços peso às costas qual o que, leveza sustentável demarcada na maciez das areias nuances vivenciam querer estímulo ator e cenário fundem contemporâneo e passado longe do anacronismo o amanhã todavia me é bom anoitecer enluarado mesmo só retorno elas em mim virão memórias erguidas enquanto olhar o ainda distante horizonte (Pescador - em fluxo de pensamento).
Segundo ato – Terrano:
57. - À luta! Vamos saqueá-lo! (Fenton -almirante corsário inglês- diz a seus marinheiros)
58. - Defendamo-nos do saque... o metal nobre trazido do Rio da Prata foi lavrado para a coroa espanhola. (Capitão espanhol -em navio saqueado- diz a seus marinheiros)
59. – Vencemos! Orientar a estibordo rumo a Santos... (Ward -vice-almirante corsário inglês- diz aos capitães de sua esquadra)
60. - Sendo Santos tal e qual Withal afirmou, admito que será um porto seguro para o conserto do casco e para novos saques. (Fenton – diz a Ward)
61. - Adorno meu sogro! Preciso trabalhar, como ferreiro e carpinteiro que sou, apesar de nosso parentesco e sua respeitosa riqueza e sabedoria. Além do que, veja o estado do casco inglês! (Withal -inglês local- diz em terra ao sogro Adorno)
62. - Fenton, coopero com você e digo: os portugueses, mulheres e crianças saíram da vila; os navios deverão ancorar junto à vila para permanecerem visíveis, tranqüilizando-os. (Withal -a bordo- diz a Fenton)
63. - Gente daqui, os ingleses necessitam consertar o casco do navio e eu necessito desse trabalho. (Withal -em terra- diz aos locais)
64. - Confiamos no Withal, que necessita trabalhar no que sabe, mas estaríamos dando porto seguro a saqueadores nesse conserto do casco... (Anônimo local – diz aos locais)
65. - Gente daqui! Deliberamos que por enquanto nos entregaremos à nossa defesa. Leitão falará à Fenton, dentro de poucos dias. Poderá forrar de cobre o casco, carpintear e pescar, por enquanto... forjas e fornos só depois da chegada de Leitão. (Emissário de Leitão -capitão mor e governador da província- diz aos locais)
66. - Adorno, Veras, Raposo, Withal... venham a um banquete a bordo, preparado para vocês decidirem lá, com liberdade. (Ward - diz a Fenton)
67. - Ward, vamos aprisioná-los. (Fenton – diz a Ward)
68. - Fenton, será melhor corrompê-los. (Ward - diz a Fenton)
69. - Ward... eles são leais ao poder constituído local! (Fenton – diz a Ward)
70. - Withal e Adorno... vamos à terra junto aos navios para conhecer o lugar para a forja. (Fenton – diz a Withal e Adorno)
71. - Adorno! Ofereço a você seda e veludo. (Fenton – diz a Ward)
72. - Ouçam todos... “Gente de Santos não se entende com reconhecidos piratas”. (Adorno – ancião local, sogro de Withal e de posses, diz a todos locais, segundo SANTOS, F.M. – “História de Santos”; 1º volume, pág. 137-8, 2ª ed.1986; Ed. Caudex São Vicente - S.P.)
73. - Ward, eu confiei em Withal nessa empreitada e agora... (Fenton – diz a Ward)
74. - Gente daqui... estou arrependido do pacto que confesso ter feito com Fenton, em facilitar-lhe porto seguro para saques a espanhóis... (Withal - diz aos locais)
75. - Almirante Valdez; fomos atacados. Trata-se de saque corsário inglês e agora estamos à deriva. (Capitão espanhol -no navio da esquadra espanhola avariado na escaramuça- diz ao Almirante Valdez,)
76. - Higino! Renascemos na consciência. Vá numa defesa de Santos. (Valdez -almirante da esquadra espanhola- diz a Higino)
77. - Valdez, reparando nossa pouca vigilância, vou a Santos. (Higino -vice almirante da esquadra espanhola- diz a Valdez)
78. - Como vigia professo fé na vigilância. Avisto a armada espanhola na boca da barra e a armada inglesa no estuário, ajudado pela luz do luar. (Vigia local -do morro do vigia- em fluxo de pensamento, em "24 de janeiro de 1584...", segundo SANTOS, F.M. – “História de Santos”; 1º volume, pág. 137-8, 2ª ed.1986; Ed. Caudex São Vicente - S.P.)
79. - Fique orando e vigiando -sua função- que eu avisarei nossos defensores como emissário que sou. (Emissário local -do vigia- diz ao este)
80. - Emissário, combaterei a Fenton, pegarei sua artilharia e erguerei uma fortaleza. (Higino -capitão e navio espanhol- diz a Fenton)
81. - Festejaremos a vitória e a vigilância possível. (Adorno – sogro de Wdiz aos combatentes e aos locais)
82. - Antevejo hoje a Fortaleza da Barra construída, a partir da frota de Fenton ontem dividida: e ao fundo da barra “Santa Maria de Bergoin” naufragada, mesmo Withal deixando sua madeira com metal forrada. Ward, seu vice-almirante, perdeu para Jerônimo Leitão, governante, quando para o Flores Valdez não foi páreo, que afugentou esse corsário. No espantar desse corsário daqui, à André Higino paz atribuí. Depois seu canhão pouca saudade deixou, quando contra a liberdade também mirou. (Adorno – diz aos locais)
Ato contínuo – Celeste:
83. Não fico olhando não rememoro não dou atenção não libero entrada a Zumbi que não aporte não debruço nas águas não belicosa não arrependida não resignada disto não reabilitada não amadurecida não garanto resplendor não navego não desperto elementos diametrais não essenciais não sangrados não nutridos por seu não ouvir não silente cada espaço determina ou pelo menos encoraja sua própria espécie de história no que concordo com o geógrafo Franco Moretti (Mulher caiçara - em fluxo de pensamento).
84. - Quando dei a liga pra união de suas pedras, em mudança de postura troquei a moldura. (Mulher - diz à Fortaleza da Barra Grande)
85. – Quando trouxe de além-mar os que te construíram eu pavimentei nosso jardim e desapareceu o jasmim? (Pescador caiçara - diz à Fortaleza)
86. - Eu que testemunho a sua força, nesse novo caminhar faz-me repensar,por sentí-la como a um corvo, que a todos espreita, pois ao abrir de olhos lá está você, pousada e olhando aqueles que a enxerguem. (Guarani - diz à Fortaleza)
87. - Mangue enfraquece seu salto, ou quebra, em mar alto. (Pirata - diz à Fortaleza)
88. - Eu que protegi vocês, me protejam agora, pois a culpa do muro é nenhuma no escuro. (Negro – diz à mulher, pescador, fortaleza e à criança)
89. - Eu que simbolizo o arco da aliança, digo, que em perfume da flor alheia ouvi apenas canto de sereia, (Criança - diz à Fortaleza)
90. Tento cavar um buraco negro no mar daqui com saques a metais nobres trazidos do Rio da Prata por navios fundeados nesse povoado protegidos por cascos forjados em cobre pelo ferreiro Withal casado com a filha de Adorno ancião local de posse no século XVI obstada fluidez de pensamento em singradas águas desses mares como na Europa metrificada por invasão dos mouros se o êxtase imobiliza tanto mulher quanto pescador isso faz superfície rasgares movimentares o renascido tempo presente do paraíso que se desfaz a todo instante ao remares ou jogares pedra sim refletes azul infinito (Pirata – em fluxo de pensamento).
91. Tenta-se cavar um buraco branco na praia daqui com lojas, em meio à fluidez de pensamento que se mantém ao caminhar-se em suas areias (Mulher - em fluxo de pensamento).
92. Tenta-se obstar pensamentos forjados em tantas caminhadas com lojas empilhadas sobre buraco descolorido cavado na casa da palavra afastada assim da dança de roda por ausente fruto da cultura caiçara (Pescador – em fluxo de pensamento).
93. Como proteger a palavra estupro emular solitário temeridade ultrajante participação reconhece onanismo será melhor libertar o mantido junto pássaro vou tratar minha cidade como minha querida mulher vou percorrer suas curvas até seus pés descalços como Peruíbe e Itanhaém sem fazer de conta que só tenha cabeça como Santos onde cresçam cabelos como prédios desobstruir artéria:como sua antiga via férrea que me leve ao seu coração como São Vicente permita-me passar por seus seios como Cidade Ocian e Praia Grande faça-me perder em seus braços como Bertioga e Guarujá ei de beijar sua boca voraz como Cubatão (Negro - em fluxo de pensamento).
94. Argentias lançadas pela mão em cascata se dão do sonho é a praia se artimanha espraia o sentir pranteado quase lacrimejado no olhar infantil prateado em anil sem saber o que era vislumbrada quimera argentias ao luar desde a água do mar (Criança - em fluxo de pensamento).
95. - Cria! Repercuta inocência, até nascer camaradagem ameríndia. (Guarani - diz à criança)
96. - Em meio à pequena sombra, os raios de sol - árvore sem folha. Somente o navio é melhor, do que o rebocador, utilizado, que fica no livro mais do que lido, na função de puxar ou apenas de empurrar. Fica onde está até receber aquele estímulo, aquele estímulo recebido onde está? Necessidade navio que estimula, ali, nele navega esse viajante navegador ao ter sido tirado de onde estava parado. Gira na mão movido à correria catavento colorido, colorido catavento, movido à mão correria? (Vigia - em dizer cantado: https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/reboca-o-navio )
97. “No mar da vida meus companheiros de pescaria Coquete Jango Manuel Maria ai quem me dera ter vossa fé vinde vós todos em meu socorro ó Quincas Lopes ó João do Morro velhos caiçaras de Itaguaré que desespero que contratempo quem poderia supor que o tempo ainda há bem pouco de céu azul se transformasse nesse marouço e que eu ficasse, pelo mar grosso sofrendo a fúria do vento Sul no rancho aguardam-me ansiosamente mas quem diria tão de repente que o mar tão manso ficasse mau cheio de abismos peixes vorazes ali na Laje dos Alcatrazes há muito mero muito perau estou perdido chove a canoa desarvorada bordeja à toa e eu me concentro para rezar Virgem das Virgens e ao nome dela subitamente cessa a procela todo de rosas se torna o mar e a lua aponta cobrindo tudo de um manto feito de ouro e veludo tudo aclarando com o seu candor e o barco inteiro chega à Atalaia e eu são e salvo salto na praia volto à choupana do meu amor Nossa Senhora cheia de graça que a vossa bênção feliz me faça me livre sempre de todo o mal tornai-me simples como os pastores como os barqueiros, os pescadores a santa gente do litoral" (Pescador – em fluxo de pensamento, em homenagem a Martins Fontes, “Indaiá” - Livro Phostumo, 1937)
98. Fila de espera em animado quintal pular fogueira (Criança - em fluxo de pensamento).
99. Cheiro do botão rosa com pétala desfeita espinha só minha alma que escapa igual formiga contra corrente à seiva no verde da floresta ao balançar do caule silêncio entre si jesuíta e indígena guarani os mais representativos sobreviventes de uma luta cultural colonialista e de resistência para troca de sentimentos relevados ou persistentes em tal luta há pertinente ausência indígena legítima em boa vinda ao jesuíta soldado da cultura católica o que torna perceptível o indizível não silente relevar-se passado sangrento impingido aos dois lados ou perseverança em não ouvirem-se (Guarani - em fluxo de pensamento).
100. Presa no chão diverso em vento que assobia passagem do animal em canto protegido do frio que me açoita mas junta no caminho enamorado beco (Mulher - em fluxo de pensamento).
101. Numa só cavocada terra pra que te quero mandioca pra festa (Negro - em fluxo de pensamento).
102. - Desculpa. Apenas aguardar um perdoar divino, tão improvável quanto pleno amar só vespertino. Relevar humano dispensa pedido e espanta desengano. Lentidão nos passos no ressecado chão - novena de chuva. Você poderá sentir, ter chegado longe seu existir. Administrar sentimentos no self antes de solucioná-los com perdão no céu enfim. (Guarani - em dizer cantado:https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/desculpa )
103. - Água jorra onde menos se espera - alisa a beirada do abismo, pelas mãos do padre também batiza, no choro da criança que esperneia respinga no padrinho que sorri. Numa parede lá da sacristia, na fala úmida que se faz ouvir, sai igual enxurrada, de pessoas, até chegar perto do paraíso - na pia batismal que me habita. Fica olhando, rememorando. Tua atenção libera entrada á Zumbi. Aportada. Debruçada nas águas. Belicosa arrependida? Resignada? Revisitada. Aportada. Garanta resplendor à navegação. Desperta elementos diametrais, essência sangrada. Agora nutra teu ouvir, em silêncio, do finado Barnabé, como verdadeiro “xerife”, daquela praia. Prefiriria chamar a Dona Noquinha a “prefeita”. A Pedrina e seu marido Izaldo, com sua turma, pais de Maria Isabel. Primeiro eu daria uma festa, no sítio do Atílio, regada com sua “Pinga do Guaiúba”. Não sem antes forrar meu estômago com banana, do sítio do engenheiro Américo. Deixaria pro Dr. Hélcio curar o Sr. Bodega, porque isso tá parecendo mais um causo daquele que bebe. Eu pediria ajuda pro Barbosa, aquele pescador da vizinha Praia do Goes. Pro Manoel Januário Ferreira, daquela padaria do canal da barra, do lado de Santos, em invisibilidade – ética, que é a estética da alma.(Pescador - diz à plateia)
104. - Essa minha ficção - aventada, invade a sua realidade - vivida. Se seu ensaio referencia o mensurável, já o meu é, praticamente, arreliação descabida. Fecho meu conto, presunçosamente adulto, para abrir meus ouvidos ao que há, em sua história, de força motriz que toca meu coração, desarvorado, procurando sua raiz. (Pescador - diz à plateia)
Ato contínuo - Adeus:
105. Caiçara Poética: Praça Benedicto Calixto.sp.com espaço Plínio Marcos - lufada inspiradora.Cenários, além de atores, no encontro paralelo. Parecem deslocados da maresia, na ausência de estátua do Plínio, a pesar no sebo armado, ao lado de pequeno arena. Instigam reflexão, àquele de Santos, quando lá geram um dizer poético seu, na estranheza - ausente paisagem. Pretenso público, sentado no arena... audição pra sarau? Há complemento disso, na praça do aquário. Acolá hálito de gastronomia, substitui poema. Ali só, brumas e fluidez, testemunho não justifica. Depara-se com a imensidão do mar, horizonte, céu, estátua do pescador caiçara e seus ingredientes, ao falar, aspira pertencimento, à vida. (Criança com todos os atores - em dizer cantado, à plateia,https://soundcloud.com/user109475440ricardoroque/caicara-poetica ). 
FIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário